Como sempre, todos contra o governo, na busca sôfrega de uma crise. Tudo serve, até a tragédia de Congonhas
Um colunista da Folha de S.Paulo afirma na primeira página que o “nome certo” da tragédia de Congonhas “é crime”. E o criminoso? Obviamente, trata-se do governo do ex-metalúrgico alçado a uma função superior às suas forças.
Creio que, antes de um julgamento final, seria oportuno apurar com precisão as causas do acidente, como de resto convém à prática do melhor jornalismo. Mesmo assim o colunista propõe a seguinte manchete: “Governo assassina mais de 200 pessoas”.
É inegável, isto sim, a omissão governista em relação à insegurança do Aeroporto de Congonhas. Todos o sabemos mal situado e pessimamente usado. Em outros países, aeroportos como o paulistano ou foram suprimidos ou destinados a operações de porte restrito.
Se Congonhas, pelo caminho oposto, cresceu em pretensão e alcance, isto se deve, em primeiro lugar, ao lobby das companhias aéreas, à prepotência da Infraero e à condescendência da Anac que não encontraram a devida resistência do governo, quando não a firme intervenção para pôr as coisas no lugar certo.
Reconheça-se que Lula tem sido leniente em relação a interesses diversos que não coincidem em absoluto com aqueles do País e do seu povo. A capa de CartaCapital da semana passada aponta omissões e concessões recentes. Não sei porém se a indignação do colunista da Folha seria igual se, nas mesmas circunstâncias, o presidente fosse algum tucano DOCG (denominação de origem controlada e garantida). Digamos, Fernando Henrique, ou, melhor ainda, José Serra. Tudo serve na busca sôfrega de uma crise.
Neste rumo a mídia malha a situação e poupa a oposição, com empenho e desfaçatez dignos da medalha de ouro, recordista mundial. E me permito contar um episódio que remonta à segunda 16, e que não foi registrado por jornal algum, ou por qualquer órgão midiático.
O governador do Paraná, Roberto Requião, naquela tarde visita o presidente Lula no Palácio do Planalto, para um encontro como de hábito cordial. Em seguida, o governador, em toda a sua corajosa imponência, dirigi-se ao Comitê de Imprensa do próprio Palácio.
Requião tem sido um dos alvos preferidos dos ataques da mídia. Suas relações com os jornalistas são tensas, mas ele não hesita na provocação, e pergunta por que, em outros tempos, “vocês não falaram do filho de Fernando Henrique?” Mais um rebento fora do matrimônio, como no caso de Renan Calheiros. A aventura de FHC, do conhecimento até do mundo mineral, é anterior à sua primeira eleição em 1994, e a jovem brindada pelos favores do príncipe dos sociólogos foi mais uma jornalista em atividade em Brasília, Miriam Dutra.
A pergunta de Requião deixa os credenciados do comitê entre atônitos e perplexos. Alguém balbucia que a comparação não cabe, os casos são diferentes. Impávido, o governador ergue o sobrolho e clama: “Por quê?” Logo explica: “Quem sustentou o filho do ex-presidente foi, desde o nascimento, uma empresa privada, a Globo da família Marinho”.
A bem da tranqüilidade familiar de FHC, e do seu desempenho na Presidência, Miriam Dutra e seu filho foram enviados ao exterior, no resguardo. Consta que voltaram para o País faz pouco tempo. Fez-se o silêncio no comitê, e o governador se foi, a dar risadas.
Agora, sou eu quem pergunta: alguém leu, ou ouviu, relato desse episódio? E então, volto à carga: qual é o país do mundo que se diz democrático, e goza de liberdade de expressão, onde um governador de estado, ou qualquer figura pública importante, fala de um ex-presidente da República igual a Requião, diante de uma matilha de perdigueiros da informação, e a mídia fecha-se em copas? Não conheço outro, além do Brazil-zil-zil.
Fonte: CartaCapital
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