Édith Piaf - A Quoi ca Sert L'Amour


Link: http://br.youtube.com/watch?v=MuJi9AQpB7Q

Link: http://br.youtube.com/watch?v=3kwMxiqJouM

Link: http://br.youtube.com/watch?v=iFAtMO2AIBE

Link: http://br.youtube.com/watch?v=yC3e7rmSYM4

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Link: http://br.youtube.com/watch?v=EjAoBKagWQA

Link: http://br.youtube.com/watch?v=qdO3XN7VvCs

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Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...


— mas só esse eu não farei.


Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...


— palavra que não direi.


Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,


— que amargamente inventei.


E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...


— e um dia me acabarei.
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste breve,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
Os senhores todos conhecem a pergunta famosa universalmente repetida: "Que livro escolheria para levar consigo, se tivesse de partir para uma ilha deserta...?"

Vêm os que acreditam em exemplos célebres e dizem naturalmente: "Uma história de Napoleão." Mas uma ilha deserta nem sempre é um exílio... Pode ser um passatempo...

Os que nunca tiveram tempo para fazer leituras grandes, pensam em obras de muitos volumes. É certo que numa ilha deserta é preciso encher o tempo... E lembram-se das Vidas de Plutarco, dos Ensaios de Montaigne, ou, se são mais cientistas que filósofos, da obra completa de Pasteur. Se são uma boa mescla de vida e sonho, pensam em toda a produção de Goethe, de Dostoievski, de Ibsen. Ou na Bíblia. Ou nas Mil e uma noites.

Pois eu creio que todos esses livros, embora esplêndidos, acabariam fatigando; e, se Deus me concedesse a mercê de morar numa ilha deserta (deserta, mas com relativo conforto, está claro — poltronas, chá, luz elétrica, ar condicionado) o que levava comigo era um Dicionário. Dicionário de qualquer língua, até com algumas folhas soltas; mas um Dicionário.

Não sei se muita gente haverá reparado nisso — mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos, se não mesmo o mais poético dos livros. O Dicionário tem dentro de si o Universo completo.

Logo que uma noção humana toma forma de palavra — que é o que dá existência ás noções — vai habitar o Dicionário. As noções velhas vão ficando, com seus sestros de gente antiga, suas rugas, seus vestidos fora de moda; as noções novas vão chegando, com suas petulâncias, seus arrebiques, às vezes, sua rusticidade, sua grosseria. E tudo se vai arrumando direitinho, não pela ordem de chegada, como os candidatos a lugares nos ônibus, mas pela ordem alfabética, como nas listas de pessoas importantes, quando não se quer magoar ninguém...

O Dicionário é o mais democrático dos livros. Muito recomendável, portanto, na atualidade. Ali, o que governa é a disciplina das letras. Barão vem antes de conde, conde antes de duque, duque antes de rei. Sem falar que antes do rei também está o presidente.

O Dicionário responde a todas as curiosidades, e tem caminhos para todas as filosofias. Vemos as famílias de palavras, longas, acomodadas na sua semelhança, — e de repente os vizinhos tão diversos! Nem sempre elegantes, nem sempre decentes, — mas obedecendo á lei das letras, cabalística como a dos números...

O Dicionário explica a alma dos vocábulos: a sua hereditariedade e as suas mutações.

E as surpresas de palavras que nunca se tinham visto nem ouvido! Raridades, horrores, maravilhas...

Tudo isto num dicionário barato — porque os outros têm exemplos, frases que se podem decorar, para empregar nos artigos ou nas conversas eruditas, e assombrar os ouvintes e os leitores...

A minha pena é que não ensinem as crianças a amar o Dicionário. Ele contém todos os gêneros literários, pois cada palavra tem seu halo e seu destino — umas vão para aventuras, outras para viagens, outras para novelas, outras para poesia, umas para a história, outras para o teatro.

E como o bom uso das palavras e o bom uso do pensamento são uma coisa só e a mesma coisa, conhecer o sentido de cada uma é conduzir-se entre claridades, é construir mundos tendo como laboratório o Dicionário, onde jazem, catalogados, todos os necessários elementos.

Eu levaria o Dicionário para a ilha deserta. O tempo passaria docemente, enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos, nomes, sementes e pensamentos e sementes das flores de retórica.

Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens.

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Link: http://br.youtube.com/watch?v=KCSEwfqs-VM

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Link: http://br.youtube.com/watch?v=ymFDjpNlC24

Link: http://br.youtube.com/watch?v=VKnVAZHehV0

Carlos Drummond de Andrade - José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quantos enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

Tende imensa piedade dos músicos de cafés e de casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Quem em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas são humildes nas suas carícias
Mas tende maior piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Quem lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tente mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!
No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.

Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-la mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

Link: http://youtube.com/watch?v=Oa0eswyZEmw

Link: http://youtube.com/watch?v=phk2wGgRNRk

Battlefield 2142 - Diário de um Noob


Link: http://youtube.com/watch?v=sOUebBsnbjc

Link: http://youtube.com/watch?v=QCq-sgihxfg

Link: http://youtube.com/watch?v=dAEWUgENCug

Link: http://youtube.com/watch?v=y3z2YGPDs04

Link: http://youtube.com/watch?v=vs_pnhxsEfw
A alma humana é um manicômio de caricaturas.
Se uma alma pudesse revelar-se com verdade
E nem houvesse um pudor mais profundo que todas as vergonhas conhecidas, definidas
Seria, como dizem, da verdade o poço.
Mas um poço sinistro, cheio de ecos vagos, habitado por vidas ignóbeis, viscosidades sem vida, lesmas sem ser.
Ranho da subjetividade.
Eis a alma.

Fonte: Provocações
Nos primeiros tempos de casamento ele aparentava uma saúde de ferro mas, de uns anos pra cá, mostrava-se tão frágil, tão suscetível às doenças, que Dona Belinha, sua esposa, intranqüilizava-se cada vez mais.

— Qualquer coisinha o Pirilo hospitaliza-se — choramingava às amigas. — Tão frágil, tão doentinho...

E assim era. Por um simples sintoma de gripe ou resfriado, o Pirilo pegava um pijama, escova de dentes, pente e chinelos, metia-os numa maleta branca e hospitalizava-se.

— O que é que você tem, Pirilo? — perguntava a esposa preocupada, vendo o marido fazer a mala para mais uma ida à casa de saúde.

— Nada, minha velha.

— E se não tem nada, por que você vai para o hospital, Pirilo? — insistia Dona Belinha, mais preocupada do que nunca.

— Com saúde não se facilita. Não tenho nada agora, mas estou esperando uma gripe de uma hora para outra.

E se internava por quatro, cinco dias. Proibia as visitas e não aceitava flores ou maçãs. "Se eu morrer, não quero ninguém no velório. Na doença e na morte, longe os parentes", era a teoria que defendia e a que a família obedecia.

— Chama-se isso de hipocondria — explicou um médico a quem Dona Belinha secretamente visitou:

— Hipocondria?

— É uma ansiedade habitual relativa à própria saúde — decifrava o médico. — É muito comum, um caso assim. Há pessoas que não vivem sem tomar remédio. Seu marido é um caso desses. Só que em estado mais grave, porque ele chega a ir para o hospital. Mas não se preocupe. Os hipocondríacos são os que vivem mais.

— Isso pega, doutor? — inquiriu Dona Belinha, quase desejando que sim, para poder acompanhar o marido, de quem sentia muita falta, durante os dias de nosocômio.

— Pegar, não digo, mas quem convive com um hipocondríaco, sendo de espírito fraco, pode-se contagiar por esta mania.

E ela muito rezava e pedia que lhe fosse dado este contágio.

— Belinha, traz a mala.

— Pra onde você vai, Pirilo?

— Vou-me hospitalizar.

— O que é que você está sentindo?

— Hoje, fazendo as unhas, tirei sangue da cutícula. Isso pode infeccionar, dar tétano, gangrenar, sei lá. Com saúde não se brinca.

E, de mala branca na mão e infalível chapéu preto à cabeça, lá ia o Pirilo para o Hospital dos Estrangeiros, onde tinha conta corrente (pagava por semestre) e apartamento quase fixo.

— O apartamento de sempre, Sr. Pirilo? perguntava a enfermeira, como se aquilo fosse um hotel.

— Não. Desta vez quero um no terceiro andar, com vista para a encosta.

E por uma semana, muitas vezes, curtia o seu hospitalzinho, de camisola e tudo, com exames de pressão arterial, termômetros sob a axila, colheita de urina, sangue, fezes, escarro, etc. Uma semana depois, sentindo-se recuperado, voltava ao seio da família, dizendo-se outro homem.

Ao mesmo tempo em que os filhos cresciam, desenvolvia-se a hipocondria do Pirilo, que se internou pelos motivos mais burlescos, de tão banais: furúnculo, cisco no olho, mau jeito no braço, aerofagia, topada.

A conselho médico a mulher nem tocava mais no assunto, tentando meter na cabeça do marido que ele não sofria de coisa alguma ("Isso pode piorar, porque ele fica irritado e..."). Ao ver Pirilo chegar e entrar em casa sem tirar o chapéu preto, a mulher já sabia que era caso de hospital. E, por conta própria (disso o médico não teve culpa), já até colaborava com a hipocondria do marido.

— Não está passando bem, Pirilo?

— Ainda bem que você notou. Hoje arrotei duas vezes, depois de tomar uma Coca-Cola. Faz a mala.

E o pijama, com pente, chinelo e escova de dentes, era enfiado na mala branca que Pirilo conduzia ao Hospital dos Estrangeiros, onde era mais conhecido do que muitos dos médicos que lá operavam ou davam plantão.

— Terceiro andar, para a encosta?

— Segundo andar, de frente.

— 214 — informava a enfermeira, dando-lhe a chave.

Tantas foram as vezes que Pirilo se internou que, ultimamente, já ia sozinho da portaria para o quarto. Ir uma enfermeira com ele para quê, se ele conhecia os corredores e apartamentos mais do que a maioria delas? De hospital, ele dava aula. E era um custo para aceitar a alta do médico.

— Pode ir embora hoje, Sr. Pirilo.

— De jeito nenhum. Antes de quinta-feira ninguém me tira daqui.

— Mas o senhor já está bom. Os gases...

— Os gases acabaram, mas... e essa unhazinha?

— Que tem a unha? — perguntava o médico, segurando-lhe a falange do pé que Pirilo lhe exibia.

— Repare na unha, veja bem.

— Está bem.

— Ora, doutor, enganar ao Pirilinho? A unha está encrava, não encrava. Antes de quinta-feira eu não saio, a não ser que a unha se resolva.

De tanto Pirilo se ausentar para os hospitais, apareceu um arquiteto desquitado com ótimos planos e projetos para Dona Belinha com os quais ela concordou, de tanta distância que já sentia do marido hipocondríaco.

Saiu ganhando, pois amava agora um homem formado, enquanto Pirilo continuava amante de uma ajudante de enfermeira do Hospital dos Estrangeiros, que um dia dava plantão no terceiro andar, de frente para a encosta, no outro dia no segundo andar, de frente para a frente...

Os hipocondríacos merecem cuidados!

Link: http://youtube.com/watch?v=16MaB1dR9zY

Link: http://youtube.com/watch?v=fj1yQOj2OPw

Link: http://youtube.com/watch?v=6kVBqefGcf4

Link: http://youtube.com/watch?v=tWHkluThDXQ

Link: http://www.youtube.com/watch?v=pEM0T1Ar5Qo
Sem qualquer esperança
detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo,
enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.

Sem qualquer esperança
te espero.
Na multidão que vai e vem
entra e sai dos bares e cinemas
surge teu rosto e some
num vislumbre
e o coração dispara.
Te vejo no restaurante
na fila do cinema, de azul
diriges um automóvel, a pé
cruzas a rua
miragem
que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
e se esvai nas nuvens.

A cidade é grande
tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
talvez na rua ao lado, talvez na praia
talvez converses num bar distante
ou no terraço desse edifício em frente,
talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
misturada às pessoas que vejo ao longo da Avenida.
Mas que esperança! Tenho
uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
disseminada pela cidade.

A noite se ergue comercial
nas constelações da Avenida.
Sem qualquer esperança
continuo
e meu coração vai repetindo teu nome
abafado pelo barulho dos motores
solto ao fumo da gasolina queimada.

Link: http://www.youtube.com/watch?v=cmE1tPgpfuI

Link: http://www.youtube.com/watch?v=lEHA2F5cmok

Link: http://www.youtube.com/watch?v=qLW8u4ppMmU

Link: http://www.youtube.com/watch?v=9jUpTV8WwzQ
Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta

de azul

de berimbau

de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...

Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?

Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave

ave

moinho

e tudo mais serei

para que seja leve

meu passo

em vosso caminho.

Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.
Como diria o Cardoso, Trauma certo. 5 anos de terapia no mínimo. =D

Link: http://youtube.com/watch?v=iEGjda3jOOE

Link: http://www.youtube.com/watch?v=a89yRqqK1T8

Link: http://www.youtube.com/watch?v=rqbcV39Sq1o

Link: http://www.youtube.com/watch?v=c44-PO8UAVs
Nunca acreditei (muito) na idéia de Deus, principalmente porque todo mundo que realmente existe e é importante dá entrevista coletiva ou aparece no Jô. E essa história de "O Senhor proverá" sempre foi uma justificativa maravilhosa para o impasse entre capitalismo, consumismo e o ócio. Mas filosofia de congestionamento leva à depressão que é fortemente agravada pelo sol, tédio e dor nas costas.

A verdade é que esses fatos são sempre bem menos relativos do que é possível imaginar, e questionar deus (ou Deus, quem é que sabe?) sempre pareceu um ato extravagante. Enfim, é um dia quente, o trânsito está horrível e a possibilidade de morrer desidratada é enorme. Uma extrema unção seria útil. Pego o celular wap e procuro um acesso rápido a Deus (este mesmo: senhorialmente maiúsculo), um canal que ofereça milagres, confissão e penitência por e-mail. Confortável e conveniente.

Faço como sempre fiz mas, para minha surpresa, o caminho normal havia sido alterado e em vez do botão de envia, a única coisa na tela do celular era o esboço de um rosto e os comandos haviam sido trocadas por uma voz grossa e rouca, altamente sensual.

Confesso que fiquei excitada — pela situação e pela voz. O que estava sentindo era quase um orgasmo e controlar os gemidos era doloroso, mas a situação (o orgasmo) foi amenizando e tudo o que restou foi um formigamento e as palavras de um senhor me explicando a situação: optou por não dar entrevistas coletivas, mas estava no meu wap e responderia o que eu quisesse. Em off, claro!

Perguntei sobre ele, sua aparência, o apocalipse, Jesus Cristo, a virgindade de Maria, Maria Madalena — que ele descreveu como uma "morena estonteante e capaz de desviar o caminho de qualquer Messias". Depois me contou impropriedades sobre Sodoma e Gomorra. Basicamente foram queimadas por estarem se tornando pontos turísticos. Falou sobre os castigos, a Santa Ceia, o Espírito Santo e do estranho hábito de São Paulo: consumir um cigarrinho antes dos sermões que, além de interessantes, eram animadíssimos.

Conversamos horas e o calor até passou. Falamos de compromissos, entregas, evangélicos, guerras santas, crianças, camelos, Lázaro e Noé — que era pansexual. Ele evitava rir talvez para que eu também não o fizesse.

Disse ainda que roncava, gostava de jogar paciência spider, ver os transes em festas techno e, principalmente das páginas de caráter religioso na web. Confesso que me assustei com essa última afirmação, mas contou com um certo prazer o quanto era divertido assistir alguém brincando de ser Ele. Ah! E que na altura de sua experiência, ver aquela impropriedade era como um filme de Almodovar (que ele adora). Advertiu que não gosta de cinema americano; prefere os filmecos da década de 20 e freqüentemente volta lá para assistir as filmagens.

Durante nossa conversa percebi que Deus era um pouco como eu, ou melhor, eu era como ele. E notei com uma certa angústia que ser educada por uma família católica não era uma grande vantagem, mas viver num mundo religiosamente ateu me deu certos anticorpos para perceber que uma parte ínfima de Deus era eu. E que nas minhas milhares de horas de vida podia ter me dedicado mais a nós.

Sobre a sua onipresença disse apenas que tinha um equipamento muito avançado. E com a minha fé amadora aprendi mais sobre Deus num wap do que em anos de catecismo. E quando criança rezava para que ninguém aparecesse para mim. Não suportaria a situação. Mas gosto muito dos santos e me restava saber se havia alguém que gostava de mim muito embora tenha dado as costas para Iemanjá, mesmo vestindo calças bem apertadas para ter certeza de que ocupava um espaço no mundo.

Então o pior aconteceu; o trânsito andou e Deus foi embora. Mas antes disse que o fim do mundo estaria próximo e seria anunciado por uma hecatombe. Por via das dúvidas, larguei a faculdade e o emprego e abri minha web-seita. Íamos bem, mas estamos com problemas seriíssimos de direitos autorais. Recentemente Bill Gates patenteou os números 1 e 0 e fica difícil realizar qualquer coisa com ou sem eles. Na dúvida patenteei do 2 ao 9. Ganho menos dinheiro, mas rende bem.

Ainda assim estou decepcionada com a falta de coragem suicida da minha fé e não consigo fazer música com o som do teclado e, tampouco me emocionar com as minhas missas virtuais. E que tipo de mártir eu esperava ser nascendo no século XX? Fax, videocassete, pager, telefone, televisão, internet, rádio — analógico ou digital —, não importam. Se no princípio era verbo agora tudo é gerúndio. O máximo seria uma versão informatizada de Santo Agostinho. Prometo, assim que os meus anunciantes me deixarem, virar sanduíche de informação na Praça da Sé. E com uma ótima trilha sonora. Nada de padres mas cantos gregorianos. Mais que isso, juro aprender que a liberdade não se resume a uma estátua da ilha de Manhattan.

Já resolvi que não importa o verbo. Vou é viver de metáforas e com a renda dos números. É lógico e lúdico. Na internet o que não é?
Me lembro do tempo em que era menino, jogador de bola, lá nos cafundós do Serro, essa cidadezinha aprazível, pequenina e boa, porque se crescer mais estraga.

Terrazinha generosa, de a gente visitar roça e comer queijo.

A coisa mais gostosa que havia, exceto a filha do prefeito, era a gente sentar lá no alto da Santa Rita, uma igreja em cima dum morro, e se espreguiçar naquele gramado verdejante, que se me esforçar um pouco mais, inda sinto o cheiro.

E se ficava ali, tomando sol como lagarto, com os amigos, no exercício do à toa, sentindo vento e espalhando mentiras. De tardinha que a coisa se embunitava mais. O sol ia pedindo arrego devagar. Lá, no passado, ao contrário de agora, se percebia o tempo passando. E quando a gente dava por conta, pintava no alaranjado-vermelho-azul-roxo a primeira estrelinha, a de fazer três pedidos.

Com alguma consciência, fazia um pedido pra mim, um pra humanidade e o terceiro variava, dependia muito da inflação e da conjuntura política.

Primeiro pedia pra Deus uma namorada. Segundo, pedia pra acabar com a fome e a guerra, tentando negociar com Ele esses desejos num só, pois aí eu ainda ficava com um desejo de reserva, que não sou bobo.

As luzinhas da cidade iam se acendendo uma a uma, com má vontade. Ali, naquele horário, do alto da Santa Rita, a gente pensava em tudo, falava mal de tudo, duvidava de tudo, agradecia por tudo, e tudo isso era bom.

Refletores alumiavam a igreja às badaladas das 6 horas. Vinha chegando hora de ir embora, com roupa suja de marrom e joelho ralado, meia escorrendo pra dentro do tênis. Hora de pegar carona com meu pai, que saía do serviço ali pertinho.

De dentro do carro, indo pra casa, olhava uma última vez pra trás, praquele lugar, e não sabia porquê. É que a gente não tem muita dimensão do quê que vai virar saudade anos depois.
Em conversa com a solidão,
por acidente de um fim de tarde,
descobri que meu corpo arde
de poesia sem explicação.

Decerto, outrora me acharia louco,
mas agora um bobo sem inspiração,
dedicando a ela todo o coração,
o que, um dia, a outrem dediquei tão pouco.

Assim, pela arte que em mim não morre,
e sobrevive, sim, à linha mais torta,
fiz estes versos a uma cadeira,
que, por acaso, segurava a porta.
"Você pensa demais!", diz a amiga.
"O filho tá crescido."
"O marido tá bem servido."
"O emprego tá garantido."

"Você pensa demais!", diz a irmã.
"O pai melhora a cada manhã."
"A mãe fez torta de maçã."
"O importante é ter toda a família sã."

"Você pensa demais!", diz o filho.
"Tirar notas baixas, é normal."
"Vem escutar esse som LOUD!
"Caraca, mãe! É na moral!”

"Você pensa demais!", diz o tempo.
”Não espero mais teu sorriso.”
"Envelheço teus traços, e aviso:
"Vê se perde um pouco de juízo!"
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.
Logo au chigar lá nu Rio,
Comu todo vom turista,
Fui bêre u tal Pâo D'Açúcre,
Qui já di longe si abista.

Andei a pé um vucado,
Prá chigáre ondi ele istaba,
U vichinho é mesmu grande.
É um pão qui não mais si acaba.

I prá tirar minha dúbida
Si é mesmu di açúcre u tale,
Chigãi-me prá pérto i dãi-lhe
Uma dentada infernále!

Papagaio! aquilo é duro!
É di pedra u raio du monte...
Arreventei cinco dentes,
Dois pibôtes i uma ponte!
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais. Das criaturas. Vá lá. Gosto de voltar a este tema. Outro dia apareceu uma moça aqui. Esguia, graciosa, pedindo que eu autografasse meu livro de poesia, "tá quentinho, comprei agora". Conversamos uns quinze minutos, era a hora do almoço, parecia tão meiga, convidei-a para almoçar, agradeceu muito, disse-me que eu era sua "ídala", mas ia almoçar com alguém e não podia perder esse almoço. Alguém especial?, perguntei. Respondeu nítida: "pé-de-porco". Não entendi. Como? "Adoro pé-de-porco, pé-de-boi também". Ahn... interessante, respondi. E ela se foi apressada no seu Fusquinha. Não sei por que não perguntei se ela gostava também de cu de leão. Enfim, fiquei pasma. Surpresas logo de manhã.

Olga, uma querida amiga passando alguns dias aqui conosco, me diz: pois você sabe que me trouxeram uma noite um pé-perna de porco, todo recheado de inverossímeis, como uma delicadeza para o jantar? Parecia uma bota. Do demo, naturalmente. E lendo uma entrevista com W. H. Auden, um inglês muito sofisticado, o entrevistador pergunta-lhe: "O que aconteceu com seus gatos?" Resposta: "Tivemos que matá-los, pois nossa governanta faleceu". Auden também gostava de miolo, língua, dobradinha, chouriços e achava que "bife" era uma coisa para as classes mais baixas, "de um mau gosto terrível", ele enfatiza. E um outro cara que eu conheci, todo tímido, parecia sempre um urso triste, também gostava de poesia... Uma tarde veio se despedir, ia morar em Minas... Perguntei: "E todos aqueles gatos de que você gostava tanto?" Resposta: "Tive de matá-los". "Mas por quê?!" Resposta: "Porque gatos gostam da casa e a dona que comprou minha casa não queria os gatos". "Você não podia soltá-los em algum lugar, tentar dar alguns?" Olhou-me aparvalhado: "Mas onde? Pra quem?" "E como você os matou?" "A pauladas", respondeu tranqüilo, como se tivesse dado uma morte feliz a todos eles. E por aí a gente pode ir, ao infinito. Aqueles alemães não ouviam Bach, Wagner, Beethoven, não liam Goethe, Rilke, Hölderlin(?????) à noite, e de dia não trabalhavam em Auschwitz? A gente nunca sabe nada sobre o outro. E aquele lá de cima, o Incognoscível, em que centésima carreira de pó cintilante sua bela narina se encontrava quando teve a idéia de criar criaturas e juntá-las? Oscar, traga os meus sais.
Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,

Vendo tão fartas,
D'uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas - isso dói, me aflige...

E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,

Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme...
Têm para mim Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.

Será que mais Alguém vê e escuta?

Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.

Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?

Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.

Que vale a natureza sem teus Olhos,
ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?

Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...

Mas, não: a luz Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois rios
e continua a ronda, o Som do fogo.

Ó meu amor, por que te ligo à Morte?
Como sempre, todos contra o governo, na busca sôfrega de uma crise. Tudo serve, até a tragédia de Congonhas

Um colunista da Folha de S.Paulo afirma na primeira página que o “nome certo” da tragédia de Congonhas “é crime”. E o criminoso? Obviamente, trata-se do governo do ex-metalúrgico alçado a uma função superior às suas forças.

Creio que, antes de um julgamento final, seria oportuno apurar com precisão as causas do acidente, como de resto convém à prática do melhor jornalismo. Mesmo assim o colunista propõe a seguinte manchete: “Governo assassina mais de 200 pessoas”.

É inegável, isto sim, a omissão governista em relação à insegurança do Aeroporto de Congonhas. Todos o sabemos mal situado e pessimamente usado. Em outros países, aeroportos como o paulistano ou foram suprimidos ou destinados a operações de porte restrito.

Se Congonhas, pelo caminho oposto, cresceu em pretensão e alcance, isto se deve, em primeiro lugar, ao lobby das companhias aéreas, à prepotência da Infraero e à condescendência da Anac que não encontraram a devida resistência do governo, quando não a firme intervenção para pôr as coisas no lugar certo.

Reconheça-se que Lula tem sido leniente em relação a interesses diversos que não coincidem em absoluto com aqueles do País e do seu povo. A capa de CartaCapital da semana passada aponta omissões e concessões recentes. Não sei porém se a indignação do colunista da Folha seria igual se, nas mesmas circunstâncias, o presidente fosse algum tucano DOCG (denominação de origem controlada e garantida). Digamos, Fernando Henrique, ou, melhor ainda, José Serra. Tudo serve na busca sôfrega de uma crise.

Neste rumo a mídia malha a situação e poupa a oposição, com empenho e desfaçatez dignos da medalha de ouro, recordista mundial. E me permito contar um episódio que remonta à segunda 16, e que não foi registrado por jornal algum, ou por qualquer órgão midiático.

O governador do Paraná, Roberto Requião, naquela tarde visita o presidente Lula no Palácio do Planalto, para um encontro como de hábito cordial. Em seguida, o governador, em toda a sua corajosa imponência, dirigi-se ao Comitê de Imprensa do próprio Palácio.

Requião tem sido um dos alvos preferidos dos ataques da mídia. Suas relações com os jornalistas são tensas, mas ele não hesita na provocação, e pergunta por que, em outros tempos, “vocês não falaram do filho de Fernando Henrique?” Mais um rebento fora do matrimônio, como no caso de Renan Calheiros. A aventura de FHC, do conhecimento até do mundo mineral, é anterior à sua primeira eleição em 1994, e a jovem brindada pelos favores do príncipe dos sociólogos foi mais uma jornalista em atividade em Brasília, Miriam Dutra.

A pergunta de Requião deixa os credenciados do comitê entre atônitos e perplexos. Alguém balbucia que a comparação não cabe, os casos são diferentes. Impávido, o governador ergue o sobrolho e clama: “Por quê?” Logo explica: “Quem sustentou o filho do ex-presidente foi, desde o nascimento, uma empresa privada, a Globo da família Marinho”.

A bem da tranqüilidade familiar de FHC, e do seu desempenho na Presidência, Miriam Dutra e seu filho foram enviados ao exterior, no resguardo. Consta que voltaram para o País faz pouco tempo. Fez-se o silêncio no comitê, e o governador se foi, a dar risadas.

Agora, sou eu quem pergunta: alguém leu, ou ouviu, relato desse episódio? E então, volto à carga: qual é o país do mundo que se diz democrático, e goza de liberdade de expressão, onde um governador de estado, ou qualquer figura pública importante, fala de um ex-presidente da República igual a Requião, diante de uma matilha de perdigueiros da informação, e a mídia fecha-se em copas? Não conheço outro, além do Brazil-zil-zil.

Fonte: CartaCapital
“Meus caros amigos e parentes. Cá estou no carneiro n° 7..., da 3a quadra, à direita, como vocês devem saber, porque me puseram nele. Este Cemitério de São João Batista da Lagoa não é dos piores. Para os vivos, é grave e solene, com o seu severo fundo de escuro e padrasto granítico. A escassa verdura verde-negra das montanhas de roda não diminuiu em nada a imponência da antiguidade da rocha dominante nelas. Há certa grandeza melancólica nisto tudo; mora neste pequeno vale uma tristeza teimosa que nem o sol glorioso espanta... Tenho, apesar do que se possa supor em contrário, uma grande satisfação; não estou mais preso ao meu corpo. Ele está no aludido buraco, unicamente a fim de que vocês tenham um marco, um sinal palpável para as suas recordações; mas anda em toda a parte.

Consegui afinal, como desejava o poeta, elevar-me bem longe dos miasmas mórbidos, purificar-me no ar superior — e bebo, como um puro e divino licor, o fogo claro que enche os límpidos espaços.

Não tenho as dificultosas tarefas que, por aí, pela superfície da terra, atazanam a inteligência de tanta gente.

Não me preocupa, por exemplo, saber se devo ir receber o poderoso imperador do Beluchistã com ou sem colarinho; não consulto autoridades constitucionais para autorizar minha mulher a oferecer ou não lugares do seu automóvel a príncipes herdeiros — coisa, aliás, que é sempre agradável às senhoras de uma democracia; não sou obrigado, para obter um título nobiliárquico, de uma problemática monarquia, a andar pelos adelos, catando suspeitas bugigangas, e pedir a literatos das ante-salas palacianas que as proclamem raridades de beleza, a fim de encherem salões de casas de bailes e emocionarem os ingênuos com recordações de um passado que não devia ser avivado.

Afirmando isto, tenho que dizer as razões. Em primeiro lugar, tais bugigangas não têm, por si, em geral, beleza alguma; e, se a tiveram era emprestada pelas almas dos que se serviram delas. Semelhante beleza só pode ser sentida pelos descendentes dos seus primitivos donos.

Demais, elas perdem todo o interesse, todo o seu valor, tudo o que nelas possa haver de emocional, desde que percam a sua utilidade e desde que sejam retiradas dos seus lugares próprios. Há senhoras belas, no seu interior, com os seus móveis e as costuras; mas que não o são na rua, nas salas de baile e de teatro. O homem e as suas criações precisam, para refulgir, do seu ambiente próprio, penetrado, saturado das dores, dos anseios, das alegrias de sua alma; é com as emanações de sua vitalidade, é com as vibrações misteriosas de sua existência que as coisas se enchem de beleza.

É o sumo de sua vida que empresta beleza às coisas mortais; é a alma do personagem que faz a grandeza do drama, não são os versos, as metáforas, a linguagem em si, etc., etc. Estando ela ausente, por incapacidade do ator, o drama não vale nada.

Por isso, sinto-me bem contente de não ser obrigado a caçar, nos belchiores e cafundós domésticos, bugigangas, para agradar futuros e problemáticos imperantes, porque teria que dar a elas alma, tentativa em projeto que, além de inatingível, é supremamente sacrílego.

De resto, para ser completa essa reconstrução do passado ou essa visão dele, não se podia prescindir de certos utensílios de uso secreto e discreto, nem tampouco esquecer determinados instrumentos de tortura e suplício, empregados pelas autoridades e grão-senhores no castigo dos seus escravos.

Há, no passado, muitas coisas que devem ser desprezadas e inteiramente eliminadas, com o correr do tempo, para a felicidade da espécie, a exemplo do que a digestão faz, para a do indivíduo, com certas substâncias dos alimentos que ingerimos.

Mas... estou na cova e não devo relembrar aos viventes coisas dolorosas.

Os mortos não perseguem ninguém e só podem gozar da beatitude da superexistência aqueles que se purificam pelo arrependimento e destroem na sua alma todo o ódio, todo o despeito, todo o rancor.

Os que não conseguem isso — ai deles!

Alonguei-me nessas considerações intempestivas, quando a minha tenção era outra.

O meu propósito era dizer a vocês que o enterro esteve lindo. Eu posso dizer isto sem vaidade, porque o prazer dele, da sua magnificência, do seu luxo, não é propriamente meu, mas de vocês, e não há mal algum que um vivente tenha um naco de vaidade, mesmo quando é presidente de alguma coisa ou imortal da Academia de Letras.

Enterro e demais cerimônias fúnebres não interessam ao defunto; elas são feitas por vivos para vivos.

É uma tolice de certos senhores disporem nos seus testamentos como devem ser enterrados. Cada um enterra seu pai como pode — é uma sentença popular, cujo ensinamento deve ser tomado no sentido mais amplo possível, dando aos sobreviventes a responsabilidade total do enterro dos seus parentes e amigos, tanto na forma como no fundo.

O meu, feito por vocês, foi de truz. O carro estava soberbamente agaloado; os cavalos bem paramentados e empenachados; as riquíssimas coroas, além de ricas, eram lindas. Da Haddock Lobo, daquele casarão que ganhei com auxílio das ordens terceiras, das leis, do câmbio e outras fatalidades econômicas e sociais que fazem pobres a maior parte dos sujeitos e a mim me fizeram rico; da porta dele até o portão de São João Batista, o meu enterro foi um deslumbramento. Não havia, na rua, quem não perguntasse quem ia ali.

Triste destino o meu, esse de, nos instantes do meu enterramento, toda uma população de uma vasta cidade querer saber o meu nome e dali a minutos, com a última pá de terra deitada na minha sepultura, vir a ser esquecido, até pelos meus próprios parentes.

Faço esta reflexão somente por fazer, porque, desde muito, havia encontrado, no fundo das coisas humanas, um vazio absoluto.

Essa convicção me veio com as meditações seguidas que me foram provocadas pelo fato de meu filho Carlos, com quem gastei uma fortuna em mestres, a quem formei, a quem coloquei altamente, não saber nada desta vida, até menos do que eu.

Adivinhei isto e fiquei a matutar como que é que ele gozava de tanta consideração fácil e eu apenas merecia uma contrariedade? Eu, que...

Carlos, meu filho, se leres isto, dá o teu ordenado àquele pobre rapaz que te fez as sabatinas por "tuta-e-meia"; e contenta-te com o que herdaste do teu pai e com o que tem tua mulher! Se não fizeres... ai de ti!

Nem o Carlos nem vocês outros, espero, encontrarão nesta última observação matéria para ter queixa de mim. Eu não tenho mais amizade, nem inimizade.

Os vivos me merecem unicamente piedade; e o que me deu esta situação deliciosa em que estou, foi ter sido, às vezes, profundamente bom. Atualmente, sou sempre...

Não seria, portanto, agora que, perto da terra, estou, entretanto, longe dela, que havia de fazer recriminações a meu filho ou tentar desmoralizá-lo. Minha missão, quando me consentem, é fazer bem e aconselhar o arrependimento.

Agradeço a vocês o cuidado que tiveram com o meu enterro; mas, seja-me permitido, caros parentes e amigos, dizer a vocês uma coisa. Tudo estava lindo e rico; mas um cuidado vocês não tiveram. Por que vocês não forneceram librés novas aos cocheiros das caleças, sobretudo, ao do coche, que estava vestido de tal maneira andrajosa que causava dó?

Se vocês tiverem que fazer outro enterro, não se esqueçam de vestir bem os pobres cocheiros, com o que o defunto, caso seja como eu, ficará muito satisfeito. O brilho do cortejo será maior e vocês terão prestado uma obra de caridade.

Era o que eu tinha a dizer a vocês. Não me despeço, pelo simples motivo de que estou sempre junto de vocês. É tudo isto do


José Boaventura da Silva.


N.B. - Residência, segundo a Santa Casa: Cemitério de São João Batista da Lagoa; e segundo a sabedoria universal, em toda a parte. - J.B.S."

Racionais Mc's - Mágico de Oz


Link: http://www.youtube.com/watch?v=FUiNRW-m2LY
NEGO DRAMA,
Entro o sucesso, e a lama,
Dinheiro, problemas,
Inveja, luxo, fama,

NEGO DRAMA,
Cabelo crespo,
E a pele escura,
A ferida a chaga,
A procura da cura,

NEGO DRAMA,
Tenta vê,
E não vê nada,
A não ser uma estrela,
Longe meio ofuscada,

Sente o Drama,
O preço, a cobrança,
No amor, no ódio,
A insana vingança,

NEGO DRAMA,
Eu sei quem trama,
E quem tá comigo,
O trauma que eu carrego,
Pra não ser mais um Preto Fudido,

O drama da Cadeia e Favela,
Tumulo, sangue,
Sirene, choros e vela,

Passageiro do Brasil,
São Paulo,
Agunia que sobrevivem,
Em meia zorra e covardias,
Periferias,vielas e curtiços,

Você deve tá pensando,
O que você tem haver com isso,
Desde o inicio,
Por ouro e prata,

Olha quem morre,
Então veja você quem mata,
Recebe o mérito, a farda,
Que pratica o mal,

Me vê ,
Pobre, preso ou morto,

Já é cultural,
Historias, registros,
Escritos,
Não é conto,
Nem fabula,
Lenda ou mito,

Não foi sempre dito,
Que preto não tem vez,
Então olha o castelo irmão,
Foi vc quem fez Cuzão,

Eu sou irmão,
Dos meus truta de batalha,
Eu era a carne,
Agora sou a propria navalha,

Tim..Tim..

Um brinde pra mim,
Sou exemplo, de vitorias,
Trajetos e Glorias,

O dinheiro tira um homem da miséria,
Mais não pode arrancar,
De dentro dele,
A Favela,

São poucos,
Que entrão em campo pra vencer,
A alma guarda,
O que a mente tenta esquecer,

Olho pra traz,
Vejo a estrada que eu trilhei,
Mocó,
Quem teve lado a lado,
E quem só fico na bota,
Entre as Frases,
Fases e varias etapas,

Do quem é quem,
Dos Manos e das Minas fraca,

Hum..

NEGRO DRAMA de estilo,
Pra ser,
Se for,
Tem que ser,
Se temer é milho,

Entre o gatilho e a tempestade,
Sempre a provar,
Que sou homem e não covarde,
Que Deus me guarde,

Pois eu sei,
Que ele é neutro,
Vigia os rico,
Mais ama os que vem do Gueto,

Eu visto Preto,
Por dentro e por fora,

Guerreiro,
Poeta entre o tempo e a memória,
Hora,
Nessa história,
Vejo o dolar,
E varios quilates,

Falo pro mano,
Que não morra, e tambem não mate,
O Tic Tac,
Não espera veja o ponteiro,
Essa estrada é venenosa,
E cheia de morteiro,

Pesadelo,
Hum,

É um elogio,
Pra quem vive na guerra,
A PAZ
Nunca existiu,
Num clima quente,
A minha gente soa frio,

E um Pretinho,
Seu caderno era um Fuzil,

Um Fuzil,
NEGO DRAMA,

CRIME,FUTEBOL, MUSICA, CARAIO,
EU TAMBEM, VO CONSEGUI FUGI DISSO AE,
EU SO MAIS UM,
FOREST GUMP é MATO,
EU PREFIRO CONTA UMA HISTORIA REAL,

VÔ CONTA A MINHA....

Dae um filme,
Uma negra,
E uma criança nos braços,
Solitaria na floresta,
De concreto e aço,

Veja,
Olha outra vez,
O rosto na multidão,
A multidão é um monstro,

Eu sei,
Rosto e Coração,

Hey,
São Paulo,
Terra de arranha-céu,
A garoa rasga a carne,
É a Torre de Babel,

Famíla Brasileira,
2 contra o mundo,
Mãe solteira,
De um promissor,
Vagabundo,

Luz,
Câmera e Ação,

Gravando a cena vai,
O Bastardo,
Mais um filho pardo,
Sem Pai,

Hey,

Senhor de engenho,
Eu sei,
Bem quem é você,
Sozinho,
E se num guenta,

Sozinho,
Se num guenta a pé,

Se disse que era bom,
E as favela ouviu,
Whiski, e Red Bull,
Tênis Nike,
Fuzil,

Admito,

SeUs carro é bonito,
Hé,
E eu não sei faze,
Internet, Video-cassete,
Os carro loko,

Atrazado,
Eu to um pouco sim,
To,
Eu acho sim,

Só que tem que,

Seu jogo é sujo,
E eu não me encacho,
Eu so problema de montão,
De carnaval a carnaval,
Eu vim da selva,
So leão,
So demais pro seu quintal,

Problema com escola,
Eu tenho mil,
Mil fita,
Inacreditavel, mai seu filho me imita,
No meio de vocês,
Ele é o mais esperto,
Jinga, fala giria,
Giria não dialeto,

Esse não é mais seu,
Hó,
Subiu,
Entrei pelo seu rádio,
Tomei,
Se nem viu,
Mais é isso, aquilo,

Que,
Senão dizia,
Seu filho quer ser Preto,
Rhá,
Que irônia,

Cola o pôster do Tupac ae,
Que tal,
Que se diz,
Sente o NEGRO DRAMA,
Vai,
Tenta ser feliz,

Hey bacana,
Quem te fez tão bom assim,
O que se deu,
O que se faz,
O que se fez por mim,

Eu recebi se Tic,
Quer dizer Kit,
De esgoto a céu aberto,
E parede maderite,

De vergonha eu não morri,
To firmão,
Eis me aqui,

Voce não,
Se não passa,
Quando o Mar Vermelho abri,

Eu sou o mano
Homem duro,
Do gueto, Brow,

Obá,

Aquele loko,
Que não pode errar,
Aquele que você odeia,
Má nesse instante,
Pele pardo,
Ouço Funk,

E de onde vem,
Os diamante,
Da lama,

Valeu mãe,

NEGO DRAMA,
DrAMA, DRAMA.

Link: http://youtube.com/watch?v=IhSYb6jgD_I

D-Kay & Epsilon ft. Stamina MC - Barcelona


Link: http://youtube.com/watch?v=oimuzK1S_UQ

Link: http://youtube.com/watch?v=OFwx1ARQ3EU

Link: http://youtube.com/watch?v=uFaLRYS1baw

Link: http://youtube.com/watch?v=lwE5CI51sFk
Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
criando conceito pra tudo que restou?

Meninas são bruxas e fadas,
Palhaço é um homem todo pintado de piadas!
Céu azul é o telhado do mundo inteiro,
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!

Mas eu não sei na verdade quem eu sou!
Já tentei calcular o meu valor.
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei na verdade quem eu sou!

Perceber da onde veio a vida,
por onde entrei deve haver uma saída,
mas tudo fica sustentado pela fé!
Na verdade ninguém sabe o que é!

Velhinhos são crianças nascidas faz tempo!
Com água e farinha eu colo figurinha e foto em documento!
Escola é onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração!

Eu não sei na verdade quem eu sou...
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso... e o meu paraíso é onde estou!
Eu não sei na verdade quem eu sou!

Descobri que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente rezando no escuro, tem gente sentido ausência!

Meninas são bruxas e fadas,
Palhaço é um homem todo pintado de piadas!
Céu azul é o telhado do mundo inteiro,
Sonho é uma coisa que eu guardo dentro do meu travesseiro!
É, me esqueci da luz da cozinha acesa
de fechar a geladeira
De limpar os pés,
Me esqueci Jesus!

De anotar os recados
Todas janelas abertas,
onde eu guardei a fé... em nós

Meu café em pó solúvel
Minha fé deu nó
Minha fé em pó solúvel

É... meu computador
Apagou minha memória
Meus textos da madrugada
Tudo o que eu já salvei

E o tanto que eu vou salvar
Das conversas sem pressa
Das mais bonitas mentiras

Hoje eu não vivo só... em paz
Hoje eu vivo em paz sozinho
Muitos passarão
Outros tantos passarinho

Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça me um favor

Um favor... por favor

A razão é como uma equação
De matemática... tira a prática
De sermos... um pouco mais de nós!

Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça me um favor

Um favor... por favor
Veio de manhã molhar os pés na primeira onda
Abriu os braços devagar e se entregou ao vento
O sol veio avisar que de noite ele seria a lua,
Pra poder iluminar Ana, o céu e o mar

Sol e vento, dia de casamento
Vento e sol, luz apagada no farol
Sol e chuva, casamento de viúva
Chuva e sol, casamento de espanhol

Ana aproveitava os carinhos do mundo
Os quatro elementos de tudo
Deitada diante do mar
Que apaixonado entregava as conchas mais belas
Tesouros de barcos e velas
Que o tempo não deixou voltar

Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa?
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar

Ana e o mar... mar e Ana
Histórias que nos contam na cama
Antes da gente dormir

Ana e o mar... mar e Ana
Todo sopro que apaga uma chama
Reacende o que for pra ficar

Quando Ana entra n'água
O sorriso do mar drugada se estende pro resto do mundo
Abençoando ondas cada vez mais altas
Barcos com suas rotas e as conchas que vem avisar
Desse novo amor... Ana e o mar

Link: http://youtube.com/watch?v=IxY2nvAvEYQ

Link: http://youtube.com/watch?v=_DaVdO69rrQ

Link: http://youtube.com/watch?v=wVRO4CnzGzU

Pedro Ivo Resende - La Muerte

Bebericava uma cerveja quente neste bar lá perto de casa quando me aparece uma figura muito estranha. Ela vestia uma túnica preta, carregava uma foice e parecia flutuar por sobre o chão.

- Pedrooo...
- Ei, psiu, sai fora. Tenho dinheiro pra te dar não.
- Yo vengo te buscare, Pedrooo...
- O quê?
- Yo soy la Muerteee...
- A morte? Não, peraí, acho que houve um engano aqui, meu senhor. Eu ainda sou muito jovem e gozo de boa saúde.
- No, no. Es usted miesmooo...
- Olha só... tem um asilo cheio de velhinho do outro lado da rua. É logo ali e você vai adorar. Vamos lá fazer uma festinha, anda.
- No, no quieroooo! Tire su mão de mi braçooo...
- Tá bom, calma. Mas e se nós fizéssemo um acordo, hein? É que eu ainda sou muito jovem.
- Uno acuerdoooo?
- Isso. Nós disputamos um jogo. Se eu ganhar, fico por aqui mesmo.
- Mas que juegoooo? El xadrezzz?
- Não, xadrez é muito complicado. Nunca aprendi a jogar. Pra falar a verdade, o único jogo que eu conheço é o Super-Trunfo de carro. Aquele das cartinhas, conhece?
- Siiii, coñeço... Vamos juegare entonces...

Chegando em casa...

- Ô Máaarcia! Põe mais água no feijão. A Morte veio aqui pra jogar comigo.
- Hein? Mas o que é isso? Você vem da rua e fica trazendo essas coisas pra casa! Mês passado foi aquele cachorro sarnento, agora vem com essa Morte.
- Márcia, por favor! Ela é visita.
- Visita ou não visita, isso daí não senta no meu sofá.
- Ahh... Desculpa, dona Morte. É que a Márcia é chata pra cacete mesmo.
- No problemaaaaaaa...
- Deixa eu embaralhar aqui as cartas. Aceita um torresmo?
- Si.... Humm, muy gostosooooo....
- Toma aí. Você começa.
- Humm... Yo escolho la velocidaddddd...
- Ok, meu carro faz duzentos e...
- Ei, amor, eu sei o que essa Morte é! Tem foice, é comunista.
- Porra, Márcia!! A gente tá tentando jogar aqui! Dá um tempo.
- Não, sério. Aposto que essa coisa nojenta aí é do PT. Movimento dos sem terra, essas coisas. Olha a foice.
- Yo no soy del PTTTT...
- Márcia, será que você não percebe que eu tô tentando salvar minha vida aqui?! Vai arranjar o que fazer e me deixa em paz!!
- Eu é que quero paz. Minha mãe sempre dizia que...
- Chega!! Quer saber de uma coisa, dona Morte? Meu carro não faz nem 40 quilômetros por hora. Você ganhou, me leva daqui, me tira de perto dessa mulher.
- Nonnnn... Yo quiero elaaaa... Yo gosto de tu mujeeerrrr....
- Hahaha, quer leva a Márcia? Tá na mão. Ôoo Márcia, faz aí a sua malinha. A Morte vai te levar com ela.
- Me levar pra onde??
- Coñieces Arubaaaa?
- Não, é bonito?
- Mutchas playaaaas, cassinoosssss....
- Praias, cassinos, hummm... Ok, vambora.
- Ei, ei, ei. Peraí. Me leva nessa bocada também!
- No... Deu moleeeeeee....

Fonte: Loser
Uma vez que todos nós habitamos a Terra. Não há sexismo, racismo ou especismo no termo “terráqueo”. Ele abrange cada um de nós: de sangue quente ou frio, mamífero, vertebrado ou invertebrado, pássaro, réptil, anfíbio, peixe e humanos. Humanos, então, não sendo a única espécie no planeta, compartilham este mundo com outros milhões de criaturas vivas, já que todos vivemos aqui juntos.

Entretanto, é o terráqueo humano que tende a dominar a Terra. Frequentemente tratando outros terráqueos e seres vivos como meros objetos. Isso é o que significa “especismo”. Por analogia ao racismo e ao sexismo, o termo “especismo” é um preconceito ou atitude tendenciosa em favor dos interesses dos membros de sua própria espécie e contra os membros de outras espécies. Se um ser sofre, não há justificação moral para se refusar e levar esse sofrimento em consideração. Não importa a natureza do ser, o princípio de igualdade requer que um sofrimento deva ser considerado igual a um sofrimento semelhante de qualquer outro ser. Racistas violam o princípio de igualdade dando maior valor aos interesses de sua própria raça, quando há conflito entre os seus interesses e o interesse de uma outra raça. Sexistas violam o principio da igualdade favorecendo os interesses de seu próprio sexo. De forma similar, especistas permitem que os interesses de sua própria espécie sobreporem interesses maiores de membros de outras espécies. Em cada um dos casos, o padrão é idêntico.

Eles estão entre os números da família humana que reconhece a imperativa moral do respeito: todos humanos são alguém e não coisas. Moralmente, tratamento desrepeitoso ocorre quando aqueles que se encontram no poder e tem uma relação de poder, tratam os menos poderosos como se fossem meros objetos. O estuprador faz isso com a sua vitima. O pedófilo faz isso com as crianças que ele molesta. O senhor com seu escravo. Em cada um e em todos estes casos humanos que tem poder exploram aqueles que não o têm. Pode o mesmo ser verdade para como os humanos tratam os outros animais? Ou outros Terráqueos? Sem dúvidas existem diferenças, uma vez que humanos e animais não são iguais em todos os aspectos. A questão da igualdade usa uma outra face. Concordamos que estes animais não tem todos os desejos que um humano tem. Concordamos que eles não compreendem tudo que nós humanos compreendemos. No entanto, nós temos alguns desejos em comum e compreendemos coisas que eles também compreendem. O desejo por comida e água, abrigo e companhia, liberdade de movimentos e de não sentir dor. Esses desejos são compartilhados por animais não-humanos e humanos. Como os humanos, muitos animais não-humanos entendem o mundo na qual vivem. Senão eles não poderiam sobreviver. Então, apesar de todas as diferenças, há igualdade. Como nós, esses animais encorporam o maravilhoso mistério da consciência. Como nós, eles não somente estão no mundo, mas estão cientes dele. Como nós, eles são o centro psicológico de uma vida que é somente sua. Nestes princípios fundamentais, humanos estão lado a lado com os porcos, vacas, galinhas e perus. Qual é a nossa obrigação com esses animais, como devemos trata-los moralmente, são perguntas cujas as respostas começam com o reconhecimento da nossa semelhança psicológica com eles.

“No seu comportamento em relação aos animais todos homens são nazistas. A presunção com a qual o homem pode fazer o que quiser com outra espécies exemplifica as teorias racistas mais extremas: a lei do mais forte”.

A comparação com o Holocausto é intencional e obvia. Um grupo de seres vivos angustia nas mãos de outro. Embora alguns possam argumentar que o sofrimento de animais não possa ser comparado ao sofrimento dos judeus e escravos, há de fato um paralelo. E para os prisioneiros e vitimas deste assassinato em massa, o seu holocausto está longe do fim.

Nós precisamos de um conceito mais novo, sábio, e talvez mais místico dos animais. Longe da natureza e vivendo através de artifícios complicados, o homem na civilização vigia as criaturas através do vidro do seu conhecimento e vê, portanto, os detalhes de uma pena, mas uma imagem geral distorcida. Nós os patronizamos por serem incompletos, pelo seu trágico destino de terem se formado tão abaixo de nós. E nisto nós erramos gravemente. Pois os animais não podem ser avaliados pelo homem. Num mundo mais velho e mais completo que o nosso eles se movem completos e confiantes, dotados com extensões dos sentidos que nós perdemos ou nunca possuímos, guiando-se por vozes que nós nunca ouviremos. Eles não são irmãos, eles não são lacaios. Eles são outras nações, presos conosco nesta vida e neste tempo, prisioneiros do esplendor e trabalho da terra.

Texto retirado do filme EARTHLINGS.

Earthlings (Terráqueos, em português) é um documentário estadunidense de 2005, escrito, produzido e dirigido por Shaun Monson e co-produzido por Persia White. É narrado pelo ator e ativista dos direitos animais Joaquin Phoenix, que também é vegano e membro da PETA, maior organização de defesa dos direitos animais do mundo. A trilha sonora foi composta exclusivamente para o documentário pelo músico Moby. Em 2005 ganhou 3 prêmios em 3 festivais diferentes Boston, San Diego e Artivist.

O filme mostra como funcionam as fazendas industriais e relata a dependência da humanidade sobre os animais para obter alimentação, vestuário e diversão, além do uso em experimentos científicos. Compara o especismo da espécie humana com outras relações de dominação, como o racismo e o sexismo.


Parte 1

Link: http://www.youtube.com/watch?v=VQHVCzHM-4k


Parte 2

Link: http://www.youtube.com/watch?v=eeExxmwLsCM


Parte 3

Link: http://youtube.com/watch?v=N8U9dw-9U4E


Parte 4

Link: http://www.youtube.com/watch?v=mczps6J4Dkk


Parte 5

Link: http://www.youtube.com/watch?v=gkfu1br5Su8


Parte 6

Link: http://www.youtube.com/watch?v=GjYn-O2_15w


Parte 7

Link: http://www.youtube.com/watch?v=RNVnr8AZ6b4


Parte 8

Link: http://www.youtube.com/watch?v=yD0OW4C5HhI


Parte 9

Link: http://www.youtube.com/watch?v=AnyhJEqvjqA


Parte 10

Link: http://www.youtube.com/watch?v=fopI5_MxMKo
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