André Díspore Cancian - A lucidez da solidão

Sempre tive a impressão de que a solidão prolongada nos coloca em contato com nosso “eu” interior, faz com que consigamos enxergar de forma extremamente nítida aquilo que faz parte de nós mesmos e aquilo que é influência externa. Para imaginar se aquilo que fazemos de nossas vidas é realmente original de nossa pessoa, costumo imaginar como viveria se estivesse numa ilha deserta, sem nenhuma pessoa por perto e sem nenhuma chance de vir a encontrar alguma pelo resto de minha vida. Nesta situação, todos os esforços que tipicamente imaginamos como sendo “nossos” apresentam-se somente como uma interiorização de objetivos sociais. Penso que aquilo que faríamos se estivéssemos condenados a viver sozinhos pelo resto de nossas vidas seria o nosso eu mais original e independente, apesar de que ele parece-me lamentavelmente pobre; talvez isso aconteça porque, sem ilusões, realmente somos pobres em conteúdo.

Fonte: Paraíso Niilista

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