Eu quis fazer uma canção para o Tom Zé
Aquele mesmo bahiano terráqueo de Irará
Na transcriação de fala mansa quase é
Um caboclo que em si ainda canta a sabiá

Porque Tom Zé proseia fácil e ousa tanto
E tira e soma timbres até de velhos jornais
E desse confeito em letra e música o canto
Pertinência acalanto em eito próprio traz

Eu quis fazer uma canção para o Tom Zé
Sessenta e sete anos e ainda tão moleque
Tudo de si é banda que ele afina bem até
Soar-se bumbo bamba taperá sem breque

Porque Tom Zé eletriza a transmutação
De sua voz cabeça tronco e babel sonora
Na sua ilógica tripolar é luar de ser tão...
Escala diapasão cabeça e outra pandora

Eu quis fazer uma canção para o Tom Zé
Nos contrapontos de invencionices zil
Formiga preta reacendeu cheiro de fé
A mãe pintou o pai e ele soa bem Brasil

Porque Tom Zé trama a rítmica ancestral
No seu pastel de couve a música é vento
De Irará a Joselita foi caminho suave trigal
E ele veio árvore sem nodal ou documento

Eu quis fazer uma canção para o Tom Zé
A Rua Quixabeira trouxe em íntimo de si
Ele faz chover em lagarto pedrês que é
Mágico do cipó inventa um bemol em mi

Porque Tom Zé é cerâmico e corpóreo sim
No táctil do que ao ser de si se sonoriza
Água que anda pirilâmpada ou arlequim
Um mulo-com-cabeça que se peroliza

Eu quis fazer uma canção para o Tom Zé
Filete bípede e ninhal de tanto encantário
Borboleteando recriações de lavras até
De Irará pondo-se em si louvre sudário

Porque Tom Zé deve ser tantos e ai de si
Multiplicando o zero para nos encantar
Meio alumbrado e muito urbano zumbi
Bendito o ser de si que ele é todo lugar.

Fonte: Provocações

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