Esfarinhar a palavra granulada,
arrancando-lhe dermes e músculos,
até a medula do mármore precário
que aprisiona sua gloriosa fatuidade.
Fazer dos sentidos catacumbas
onde apodreçam os desabafos;
da vigília silente e insalubre,
um assalto à normalidade abjeta.
Corromper a palavra benta
enquanto esperança sem nome;
não basta engolir-lhe os fluidos,
há de esganá-la no útero árido,
antes que luza outra certeza vulgar.
Afogar os discursos insípidos
nesta fossa de metros exemplares,
a purificá-los de futuros,
rindo de seu refulgir afásico.
Da palavra lograda,
monumento faustoso,
limpar a porção pedra
que impregna de acridez
sob a urina dos anônimos.
Ainda que obsedado por luzes,
ignorar as emanações de alento
jorradas desse absurdo intenso
que tudo engolfa, conota e eterniza.
Dissecar a palavra cadáver,
extrair o cisto que a explica
e exsudá-lo na seiva ignara
que se oferendará ao mar.
Esperar que adormeça, decantada,
reciclando sua sina de resíduo,
buscar na areia a mensagem impossível
e então, à brasa do sol, castigá-la.
Fonte: Jornal de Poesia
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