Nada do Mundo o jovem rato ainda vira
E quase foi pela vida pego de surpresa.
À sua mãe ele contou esta história,
Julgando-a cheia de sabedoria e beleza.
"Eu passeava por aí, sozinho,
Corajoso como quem sabe o que quer,
Audacioso como quem busca seu caminho,
Quando dois animais eu encontrei.
Um doce, simpático, gracioso,
Que me olhou com gentileza e tranqüilidade.
O outro inquieto, turbulento, furioso,
Com sua voz rude, assustou-me.
Na cabeça, ondas de carne em pedaços,
Penas arrepiadas, rabo grande e majestoso;
No corpo, uma estranha espécie de braços.
Quase levantava vôo, arrogante e belo.
Batia-se com tal fúria e estrondo
Que mesmo eu, corajoso e forte,
Morri de medo e saí correndo,
Gritando assustado, temendo a morte.
Se não fosse ele, mãe, eu teria
Procurado a companhia e, talvez, feito amizade
Com alguém que me olhou com simpatia
Do outro lado do monte, atrás das plantas.
Tem um jeito manso e doce,
Parece terno, modesto, talvez desligado,
Olhos verdes, rasgados, penetrantes.
Como gostaria de com ele ter conversado!
Pela maneira como me encarou,
Tive certeza de que simpatizava com os ratos.
O barulho do outro, porém, me espantou
Antes que eu tivesse tempo de abordá-lo."
"Meu Filho", respondeu a mãe, com alegria,
"Este doce animal é o gato.
Contra o que sugere, ele é pura hipocrisia,
Não é nosso amigo, ao contrário.
Só pensa em ter-nos como almoço.
Cuidado, fuja sempre dele, ele é mau.
E aprenda, desde já, uma grande lição:
Julgar os outros pela aparência pode ser mortal!"
(Adaptação: Regina Drumond)
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