DMX - X Gon' Give It To Ya


Link: http://youtube.com/watch?v=2_TbHl3a8qk

Link: http://youtube.com/watch?v=CH9EtT6Zm2M
O raio do sol da tarde
Que uma janela perdida
Refletiu
Num instante indiferente -
Arde,
Numa lembrança esvaída,
À minha memória de hoje
Subitamente...

Seu efêmero arrepio
Ziguezagueia, ondula, foge,
Pela minha retentiva...
- E não poder adivinhar
Porque mistério se me evoca
Esta idéia fugitiva,
Tão débil que mal me toca!...

- Ah, não sei porquê, mas certamente
Aquele raio cadente
Alguma coisa foi na minha sorte
Que a sua projeção atravessou...

Tanto segredo no destino de uma vida...

É como a idéia de Norte,
Preconcebida,
Que sempre me acompanhou...

Fonte: Jornal de Poesia

Link: http://youtube.com/watch?v=eAI8_lp8CRc

Link: http://youtube.com/watch?v=CYQJ9b-C3j0

Link: http://youtube.com/watch?v=sAO1nadsrgQ

Link: http://youtube.com/watch?v=bQdqw5CPDgA

Link: http://youtube.com/watch?v=mJP1Ke5Im00

Link: http://youtube.com/watch?v=WXwbhssHTKk

Link: http://youtube.com/watch?v=weKJjknf748
Seria mais fácil fazer como todo mundo faz
O caminho mais curto, produto que rende mais
Seria mais fácil fazer como todo mundo faz
Um tiro certeiro, modelo que vende mais

Mas nós dançamos no silêncio
Choramos no carnaval
Não vemos graça nas gracinhas da TV
Morremos de rir no horário eleitoral

Seria mais fácil fazer como todo mundo faz
Sem sair do sofá, deixar a Ferrari para trás
Seria mais fácil, como todo mundo faz
O milésimo gol sentado na mesa de um bar

Mas nós vibramos em outra freqüência
Sabemos que não é bem assim
Se fosse fácil achar o caminho das pedras
Tantas pedras no caminho não seria ruim

Fonte: Paraíso Niilista
Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caía
Toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via
Do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade
Morava tão vizinha
Que, de tolo,
Até pensei que fosse minha

Junto a mim morava minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
E a dona dos olhos nem via
Do lado de lá tanta aventura
E eu a esperar pela ternura
Que a enganar nunca me vinha
Eu andava pobre
Tão pobre de carinho
Que, de tolo,
Até pensei que fosses minha

Toda a dor da vida
Me ensinou essa modinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha

Fonte: Paraíso Niilista

Link: http://youtube.com/watch?v=xxHrO2ZP6Ug

Link: http://youtube.com/watch?v=B3VoVhWWy28

Ferreira Gullar - Vida


Link: http://youtube.com/watch?v=oCHTzBSYI9s
Na beira do passeio
No fim do mundo
Olho amarelo da solidão

Cegos pés
Apertam-lhe o pescoço
No abdômen de pedra

Cotovelos subterrâneos
Empurram suas raízes
Para o húmus do céu

Pata canina ereta
Faz-lhe troça
Com o aguaceiro recozido

Contenta-o apenas
O olhar sem dono do passante
Que em sua coroa
Pernoita

E assim
A ponta de cigarro vai queimando
No lábio inferior da impotência
No fim do mundo

Fonte: Cultura Pará
Este lado da verdade,
Meu filho, tu não podes ver,
Rei de teus olhos azuis
No país que cega a tua juventude,
Que está todo por fazer,
Sob os céus indiferentes
Da culpa e da inocência
Antes que tentes um único gesto
Com a cabeça e o coração,
Tudo estará reunido e disperso
Nas trevas tortuosas
Como o pó dos mortos.

O bom e o mau, duas maneiras
De caminhar em tua morte
Entre as triturantes ondas do mar,
Rei de teu coração nos dias cegos,
Se dissipam com a respiração,
Vão chorando através de ti e de mim

Fonte: Cultura Pará
Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
"Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela"
Mas a lua, fitando o sol com azedume:

"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume"!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta luz e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?"...

Fonte: Jornal de Poesia
Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.

Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.

Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.

Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.

Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.

Pois esta criatura está em toda a obra;
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as forças dobra.

Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.

Fonte: Jornal de Poesia

Di Mostacatto - Acontece (Cartola)


Link: http://www.youtube.com/watch?v=ww0_hS5szWU

Link: http://www.youtube.com/watch?v=p6d-azJ1Na4

Link: http://youtube.com/watch?v=1Fmkn-4tV0Y

Link: http://youtube.com/watch?v=PgQalo1T5ZU

Link: http://www.youtube.com/watch?v=kJEacTZmd7I

Link: http://youtube.com/watch?v=QHbISDqGx_E

Entrevista com Clarice Lispector (Panorama Especial)


Link: http://youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok


Link: http://youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4


Link: http://youtube.com/watch?v=ZEYihXVjhEc


Link: http://youtube.com/watch?v=ptCJzf20rbY


Link: http://youtube.com/watch?v=TbZriv5THpA
A chuva cai. O ar fica mole . . .
Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.

Torvelinhai, torrentes do ar!

Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.

Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.

Volúpia dos abandonados . . .
Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer . . .

Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!

A chuva cai. A chuva aumenta.
Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!

Eu te bendigo, água que inundas!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!

E eu te amo! Quer quando fustigas
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.

É que na tua voz selvagem,
Voz de cortante, álgida mágoa,
Aprendi na cidade a ouvir
Como um eco que vem na aragem
A estrugir, rugir e mugir,
O lamento das quedas-d'água!

Fonte: Jornal de Poesia
Aquele pequenino anel que tu me deste,
– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, –
Aquele pequenino anel que tu me deste,
– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…

Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste…
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste…

Fonte: Jornal de Poesia
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Fonte: Jornal de Poesia
Sempre tive a impressão de que a solidão prolongada nos coloca em contato com nosso “eu” interior, faz com que consigamos enxergar de forma extremamente nítida aquilo que faz parte de nós mesmos e aquilo que é influência externa. Para imaginar se aquilo que fazemos de nossas vidas é realmente original de nossa pessoa, costumo imaginar como viveria se estivesse numa ilha deserta, sem nenhuma pessoa por perto e sem nenhuma chance de vir a encontrar alguma pelo resto de minha vida. Nesta situação, todos os esforços que tipicamente imaginamos como sendo “nossos” apresentam-se somente como uma interiorização de objetivos sociais. Penso que aquilo que faríamos se estivéssemos condenados a viver sozinhos pelo resto de nossas vidas seria o nosso eu mais original e independente, apesar de que ele parece-me lamentavelmente pobre; talvez isso aconteça porque, sem ilusões, realmente somos pobres em conteúdo.

Fonte: Paraíso Niilista

Link: http://www.youtube.com/watch?v=qRmb5mxvPoc

Link: http://www.youtube.com/watch?v=KnbxK1hI6_o

Link: http://youtube.com/watch?v=jtilZB3TiDg

Cecília Meireles - Discurso

E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
Oh geração dos afetados consumados
e consumadamente deslocados,
Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol,
Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas,
Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes
e escutado seus risos desengraçados.
E eu sou mais feliz que vós,
E eles eram mais felizes do que eu;
E os peixes nadam no lago
e não possuem nem o que vestir.

Fonte: Cultura Pará
Quero dos deuses só que me não lembrem.
Serei livre - sem dita nem desdita,
Como o vento que é a vida
Do ar que não é nada.
O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos,
Cada um com seu modo, nos oprimem.

A quem deuses concedem
Nada tem liberdade.

Fonte: Cultura Pará
O Tempo fica parado
É nóis que avua nele
É como a cachoeira
A Pedra fica a água vai

A água limpa a pedra
A vida limpa o tempo
A água limpa a pedra
A Pedra fica a vida vai

Não precisa ser doutor
Para ter certeza
As respostas das perguntas
Quem mostra é a Natureza

Olha a seca
Esperando chover
Isso é a solidão
Esperando o amor nascer

Olha o terremoto
Destruindo tudo
Isso é a limpeza
Para um mundo novo

É omin é de motinhô
É omin é de motinhô

Link: http://www.youtube.com/watch?v=TdagH15ZEwQ

Link: http://youtube.com/watch?v=rHtWhNgYBjU
Nem temor nem esperança assistem
Ao animal agonizante;
O homem que seu fim aguarda
Tudo teme e espera;
Muitas vezes morreu,
Muitas vezes de novo se ergueu.
Um grande homem em sua altivez
Ao enfrentar assassinos
Com desdém julga
A falta de alento;
Ele conhece a morte até ao fundo —
O homem criou a morte.

Fonte: Cultura Pará
Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
"A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem.

Fonte: Cultura Pará
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

Fonte: Cultura Pará
Há ânsias de voltar, de amar, de não ausentar-se,
e há ânsias de morrer, combatido por duas
águas unidas que jamais hão-de istmar-se.

Há ânsias de um beijo enorme que amortalhe a Vida,
que acaba na áfrica de uma agonia ardente,
suicida!

Há ânsias de... não ter ânsias, Senhor,
a ti aponto-te com o dedo deicida:
há ânsias de não ter tido coração.

A primavera volta, volta e partirá. E Deus,
curvado em tempo, repete-se, e passa, passa
carregando a espinha dorsal do Universo.

Quando as têmporas tocam seu lúgubre tambor,
quando me dói o sonho gravado num punhal,
há ânsias de ficar plantado neste verso!

Fonte: Cultura Pará
Para uma vida de merda
nasci em 1930
na rua dos prazeres

Nas tábuas velhas do assoalho
por onde me arrastei
conheci baratas, formigas carregando espadas
caranguejeiras
                    que nada me ensinaram
exceto o terror

Em frente ao muro negro no quintal
as galinhas ciscavam, o girassol
Gritava asfixiado
           longe longe do mar
           (longe do amor)

E no entanto o mar jazia perto
detrás de mirantes e palmeiras
embrulhado em seu barulho azul

E as tardes sonoras
rolavam
sobre nossos telhados
sobre nossas vidas.
Do meu quarto
ouvia o século XX
farfalhando nas árvores lá fora.

Depois me suspenderam pela gola
me esfregaram na lama
me chutaram os colhões
e me soltaram zonzo
em plena capital do país
sem ter sequer uma arma na mão.

Fonte: Cultura Pará
Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Fonte: Cultura Pará

Nine Inch Nails - Just Like You Imagined


Link: http://youtube.com/watch?v=dvOkvn9JmPg

Link: http://youtube.com/watch?v=6DmGJrrLCQE

Link: http://www.youtube.com/watch?v=hoLvOvGW3Tk

Link: http://www.youtube.com/watch?v=eMhGpzyFdhE

Link: http://www.youtube.com/watch?v=KCyWtfHIF3I

De todos os animais do planeta, o tubarão branco é o maior predador dos oceanos, com um peso de quase 2 toneladas e até oito metros de comprimento. Sua dimensão é equivalente à da orca. É capaz de projetar a boca para fora da face, aumentando o tamanho da mordida para perto de um metro e meio, quase o suficiente para engolir um homem em pé. O alimento dos tubarões brancos são as focas, leões e elefantes marinhos.

Fonte: Programa Educar

Link: http://youtube.com/watch?v=CHNmcR_wiTA

Link: http://youtube.com/watch?v=MQiFXetclTo

Link: http://youtube.com/watch?v=p9OF8PETepA
Cansa ser, sentir dói, pensar destruir.
Alheia a nós, em nós e fora,
Rui a hora, e tudo nela rui.
Inutilmente a alma o chora.

De que serve ?
O que é que tem que servir ?
Pálido esboço leve
Do sol de inverno sobre meu leito a sorrir...

Vago sussuro breve.
Das pequenas vozes com que a manhã acorda,
Da fútil promessa do dia,
Morta ao nascer, na 'sperança longínqua e absurda
Em que a alma se fia.
Eu hei de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.

Hei de expor-lhe o meu peito descarnado,
Chamar-lhe minha cruz e meu Calvário,
E ser menos que um Judas empalhado.

Hei de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar a vida, o mundo, o gozo,
Como um velho filósofo lendário.

Hei de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei de olhá-la dum modo tão nervoso,

Que ela há de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há de chorar, chorar enternecida!

E eu hei de, então, soltar uma risada...
Livre lóbulo que ladeia o intelecto
Livre lado enquanto físico perfeito
A te contemplar sereno e desperto
Mesmo se eu grito e não ouves em teu peito.

Livres olhos que farolizam o teu olhar
Livre frente a te ver de frente
Querendo um pouco da tua mente
Mesmo vendo teus olhos ficarem distantes.

Livres narinas que farejam teu suor
Livre perfume enquanto vontade eterna
Mapeando meu rastro com teu cheiro
Mesmo que o vento sopre ao contrário.

Livres lábios que se abrem em sorrisos
Livre boca a se escancarar sedenta
Querendo te furtar um beijo ardente
Mesmo que tua língua toque outras canções.

Fonte: Jornal de Poesia

Link: http://br.youtube.com/watch?v=GgTYBdb7eeg

Link: http://br.youtube.com/watch?v=l_OcR0fbf6g

Link: http://br.youtube.com/watch?v=xRIdu58lIoM

Link: http://br.youtube.com/watch?v=qRvRO20kvx8

Link: http://br.youtube.com/watch?v=jQQmAP9Poo4

Link: http://www.youtube.com/watch?v=lXQzUQfMC8s
O infinito de pé são dois biscoitos
O infinito de pé é o número oito
O infinito de pé dois planeta colado
O infinito deitado um óculos quebrado

O infinito de pé duas bolas de sorvete
Um casal de namorado na moto com capacete
Boneco de neve, dois vinhos na adega
Farol de milha de noite quase cega

O infinito deitado olhos de coruja
Dois seres humanos fazendo amor
O infinito de pé é um autorama
Duas pulgas malabaristas no meu cobertor

O infinito deitado cano duplo de espingarda
São os raios de sol nos olhos da namorada
Dois salva vidas à devida no oceano
É a linda cauda da baleia afundando

Oitocentos anos infinito lado a lado
Só que um está de pé e o outro deitado
Buraquinhos do nariz as asas da borboleta
Dois irmãos gêmeos no carrinho de mãos dadas com chupeta

O infinito tá de pé o infinito tá

O infinito deitado janelinha de avião
É o símbolo da paz passarinho a minha mão
É o laço do cadarço para o tênis amarrar
É o beijo na sua boca para o amor alimentar

Ouro sem u e sem r
O infinito é o bigode do francês Pierre
Oco sem c ovo sem v
O infinito é o amor que eu sinto por você

Dois mil e um sem o dois e sem o um
O infinito é uma dupla de sushi de atum
É o reflexo do sol no mar
É a sinuca do bilhar

O infinito de pé é um brinde na taça
Dois buracos na cueca devorados pela traça
Os pneus da bicicleta subindo a ladeira
São os seios da Brigite pra fora da banheira

Dois cocos, duas laranjas, bola de gude bola de meia
O infinito é Jesus Cristo repartindo o pão para os apóstolos na Santa Ceia
Nem todo infinito tem forma pra mim
Einstein Rodchenko Picasso e Tom Jobim
O infinito tá de pé o infinito tá

O infinito é infinito
O infinito é o amor
O infinito nunca acaba porque nunca começou

Picasso


Link: http://www.youtube.com/watch?v=fjoWCdzhuFI

Link: http://www.youtube.com/watch?v=xSu8yFiwzJE

Link: http://www.youtube.com/watch?v=nUDIoN-_Hxs
Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)

Fonte: Jornal de Poesia
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Fonte: Jornal de Poesia

Link: http://www.youtube.com/watch?v=K0VYC7nnj_4

Link: http://youtube.com/watch?v=RHiyIeUwH2I

Link: http://youtube.com/watch?v=OyNi77TTIhc
Macunaíma (1969) é um filme brasileiro, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, baseado na obra homônima de Mário de Andrade.

Link: http://youtube.com/watch?v=QduPWn4CPx0


Link: http://youtube.com/watch?v=kUep44KoRo0

Link: http://youtube.com/watch?v=MnZcZxX-ltE

Fernando Pessoa - Presságio

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fonte: Projeto Releituras
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fonte: Projeto Releituras
Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.

Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!

Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!

Link: http://youtube.com/watch?v=czWqL96yWuo

Link: http://youtube.com/watch?v=C5-ClvcHtK4

Link: http://youtube.com/watch?v=aNF42Age2PY

Link: http://youtube.com/watch?v=nRKIDdIaFyE


Link: http://youtube.com/watch?v=WRLRjKCGHek

Como funcionaria, exatamente, um motor de um carro?


Link: http://www.youtube.com/watch?v=MzBJCjlKbdI

Link: http://www.youtube.com/watch?v=I1hON9vr1Lc


Link: http://www.youtube.com/watch?v=w2f6RD1hT6Q


Link: http://www.youtube.com/watch?v=Xnxf1WeXxgk


Link: http://www.youtube.com/watch?v=zOdboRYf1hM

Link: http://www.youtube.com/watch?v=YTdB_MBYN_M

Fonte: Jacaré Banguela

Link: http://youtube.com/watch?v=M8D7My4O49A

Moska - Admiração


Link: http://www.youtube.com/watch?v=4pU77ZCTRVw

Fonte: Um Que Tenha

Link: http://youtube.com/watch?v=C45AXyCeU_g

Link: http://youtube.com/watch?v=WOYZsi5VXtU

Link: http://youtube.com/watch?v=fO0GSxIbiYg

Link: http://youtube.com/watch?v=Ro2hjMPbLNE

Link: http://youtube.com/watch?v=ekQZPozjCX8
Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?

Fonte: Ave, Palavra

Link: http://youtube.com/watch?v=0F8FP2RFhb8

Link: http://youtube.com/watch?v=TcJ6QQ9zNnE

Link: http://youtube.com/watch?v=SiOMjzNUPvs
O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Fonte: Ave, Palavra
Anjo bruxo
anjo brusco
anjo tosco
anjo fosco
anjo fusco.

Corvo engaiolado
corvo depenado
corvo acorrentado
corvo torvo
estorvo.

Luporina?
Cardina?
Heroína?
Escorbuto?

Torto na liteira
torto na cadeira
torto na esteira
torto na poeira.

Cai o dedo
polegar
no ar.
Cai o dedo
indicador
de dor.
Cai o dedo
anular
no sal.
Cai o médio
sem remédio.
Cai o mínimo.
Caem todos
um a um.
Mãos
sem nenhum.

Pardo fardo
carregado
no ombro
no lombo.

Ó Januário
arma a tenda
do trabalho.

Vem cá Maurício,
amarra o formão
no cotó
da mão.

Talha
corta
sulca
vinca
finca
fende
entalha
bate forte
bate bate
rebate
toc-toc.

Com um toque
abre a cara
de Simão Stock.

De um golpe
cria o Jorge
sem cavalo
sem galope.

Surgem da pedra talhada
(e do nada)
barbas de Isaías
pés de Jeremias
túnicas de Amós
coturnos de Oséas
braços de Habacuc
ventre de Nahum
véus de Ezequiel
cabelos de Baruc
leão de Daniel
baleia de Jonas
queixos de Abdias
nariz de Joel.

Ouro preto
trevas
pentateuco
trevas
apocalipse
trevas
hora nona
trevas
agonia
trevas
miserere
trevas
miserere.

Frio e só
no jirau.

Morto e só.
Ninguém.

Nem o presidente
nem o intendente
nem o confessor.

Só.

Dobram sinos
batem sinos
choram alguém?

Dobram os sinos
do Pilar
— pelo notário
— pelo sicário.

Dobram os sinos
do Carmo
— pelo ricaço
— pelo devasso.

Dobram os sinos
das Mercês
— pelo ouvidor
— pelo marquês.

Dobram os sinos
choram os sinos
pelos Nobres blão
pelos Brancos blão

— pelo Aleijadinho N Ã O !

Fonte: Ave, Palavra
Houve um grande riso triste
O pêndulo parou
Um bicho do mato salvava seus filhotes.

Risos opacos em quadros de agonia
Tantas nudezes transformando em irrisão a sua palidez
Transformando em irrisão
Os olhos virtuosos do farol dos náufragos.

Fonte: Ave, Palavra

Link: http://youtube.com/watch?v=X2BEhk1fqZo

Link: http://youtube.com/watch?v=sQz-CZvkY8k

Wim Mertens - Lir


Link: http://youtube.com/watch?v=i1RwdkSW4jM

Link: http://youtube.com/watch?v=r93Oayq09Lk

Link: http://br.youtube.com/watch?v=AQa9dbj7iRQ

Link: http://www.youtube.com/watch?v=Im5MG3k4-qM

Link: http://www.youtube.com/watch?v=nqqB1LEv3cA

Link: http://www.youtube.com/watch?v=knKTT4CnJfc

Link: http://www.youtube.com/watch?v=d9hW-kXc5sw

Link: http://www.youtube.com/watch?v=SROVijGD1gw

Link: http://www.youtube.com/watch?v=aqnY8WARKiY


Link: http://www.youtube.com/watch?v=tkJdqEGU_y8
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

Fonte: Jornal de Poesia
Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.

Fonte: Jornal de Poesia
Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

Fonte: Jornal de Poesia

Link: http://youtube.com/watch?v=Qfg_5i540bY

Link: http://youtube.com/watch?v=S3hjAKs25_s

Ben E. King - Stand By Me


Link: http://www.youtube.com/watch?v=f9Y6ARjIL-E

Link: http://www.youtube.com/watch?v=0eIl3Qt3rho

Link: http://www.youtube.com/watch?v=-1l6aBgX5UY

Link: http://youtube.com/watch?v=xfgnmfEiU64

Link: http://youtube.com/watch?v=jIrPa7VvNaM

Link: http://youtube.com/watch?v=l7t3I2yopX0

Link: http://youtube.com/watch?v=wLS_emaBH24
Esta história é verdade.

Um tio meu vinha subindo a Rua Lopes Quintas, na Gávea — era noite — quando ouviu sons de cavaquinho provenientes de um dos muitos casebres que minha avó viúva permite nos seus terrenos. O cavaco cavucava em cima de um samba de breque e esse meu tio, compositor ele próprio, resolveu dar uma estirada até a casa, que era a de um conhecido seu, companheiro de música, um rapaz operário com mulher e uma penca de filhos. Tinha toda a intimidade com a família e às vezes ficava por lá horas inteiras com o amigo, cada qual palhetando no seu cavaquinho, puxando música madrugada adentro.

Nessa noite o ambiente era diverso. À luz mortiça da sala meu tio viu a família dolorosamente reunida em torno de uma pequena mesa mortuária, sobre a qual repousava o corpo de um "anjinho". Era o caçula da casa que tinha morrido, e meu tio, parado à porta, não teve outro jeito senão entrar, dar as condolências de praxe e reunir-se ao velório. O ambiente era de dor discreta — tantos filhos! — de modo que ao fim de poucos minutos resolveu partir. Tocou no braço da mulher e fez-lhe um sinal. Mas esta, saindo da sua perplexidade, pediu-lhe que entrasse para ver o amigo.

Foi encontrá-lo num miserável aposento interior, sentado num catre, o cavaquinho na mão.

— Pois é, velhinho. Veja só... O meu caçula...

Meu tio bateu-lhe no ombro, consolando-o. A presença amiga trouxe para o pai uma pequena e doce crise de lágrimas de que ele muito se desculpou com ar machão:

— Poxa, seu! Até pareço mulher! Não repara, hein companheiro...

Meu tio, com ar mais machão ainda, fez qual-que-bobagem, essa coisa. Depois o rapaz disse:

— Tenho um negocinho para te mostrar...

E teve um gesto vago, apontando a sala onde estava o filho morto, como a significar qualquer coisa que meu tio não compreendeu bem.

— Manda lá.

Conta meu tio que, depois de uma introdução dentro das regras, o rapaz entrou com um samba de breque que, cantado em voz respeitosamente baixa e ainda úmida de choro, dizia mais ou menos o seguinte:

Tava feliz
Tinha vindo do trabalho
E ainda tinha tomado
Uma privação de sentidos no boteco ao lado
Que bom que estava o carteado...
O dia ganho
E mais um extra pra família
Resolvi ir para casa
E gozar
A paz do lar
— Não há maior maravilha!
Mal abro a porta
Dou com uma mesa na sala
A minha mulher sem fala
E no ambiente flores mil
E sobre a mesa
Todo vestido de anjinho
O Manduca meu filhinho
Tinha esticado o pernil.


Diz meu tio que, entre horrorizado e comovido com aquela ingênua e macabra celebração do filho morto, ouviu o amigo, a pipocar lágrimas dos olhos fixos no vácuo, rasgar o breque do samba em palhetadas duras:

— O meu filhinho
Já durinho
Geladinho!


Fonte: Projeto Releituras
I

Sai, Câncer
Desaparece, parte, sai do mundo
Volta à galáxia onde fermentam
Os íncubos da vida, de que és
A forma inversa. Vai, foge do mundo
Monstruosa tarântula, hediondo
Caranguejo incolor, fétida anêmona
Carnívora! Sai, Câncer.
Furbo anão de unhas sujas e roídas
Monstrengo sub-reptício, glabro homúnculo
Que empestas as brancas madrugadas
Com teu suave mau cheiro de necrose
Enquanto largas sob as portas
Teus sebentos volantes genocidas
Sai, get out, va-t-en, henaus
Tu e tua capa de matéria plástica
Tu e tuas galochas
Tu e tua gravata carcomida
E torna, abjeto, ao Trópico
Cujo nome roubaste. Deixa os homens em sossego
Odioso mascate; fecha o zíper
De tua gorda pasta que amontoa
Caranguejos, baratas, sapos, lesmas
Movendo-se em seu visgo, em meio a amostras
De óleo, graxas, corantes, germicidas,
Sai, Câncer
Fecha a tenaz e diz adeus à Terra
Em saudação fascista; galga, aranha,
Contra o teu próprio fio
E vai morrer de tua própria síntese
Na poeira atômica que se acumula na cúpula do mundo.
Adeus
Grumo louco, multiplicador incalculável, tu
De quem nenhum Cérebro Eletrônico poderá jamais seguir a matemática.
Parte, poneta ahuera, andate via
Glauco espectro, gosmento camelô
Da morte anterior à eternidade.
Não és mais forte do que o homem — rua!
Grasso e gomalinado camelô, que prescreves
A dívida humana sem aviso prévio, ignóbil
Meirinho, Câncer, vil tristeza...
Amada, fecha a porta, corta os fios,
Não preste nunca ouvidos ao que o mercador contar!


II

Cordis sinistra
— Ora pro nobis
Tabis dorsalis
— Ora pro nobis
Marasmus phthisis
— Ora pro nobis
Delirium tremens
— Ora pro nobis
Fluxus cruentum
— Ora pro nobis
Apoplexia parva
— Ora pro nobis
Lues venérea
— Ora pro nobis
Entesia tetanus
— Ora pro nobis
Saltus viti
— Ora pro nobis
Astralis sideratus
— Ora pro nobis
Morbus attonitus
— Ora pro nobis
Mama universalis
— Ora pro nobis
Cholera morbus
— Ora pro nobis
Vomitus cruentus
— Ora pro nobis
Empresma carditis
— Ora pro nobis
Fellis suffusio
— Ora pro nobis
Phallorrhoea virulenta
— Ora pro nobis
Gutta serena
— Ora pro nobis
Angina canina
— Ora pro nobis
Lepra leontina
— Ora pro nobis
Lupus vorax
— Ora pro nobis
Tônus trismus
— Ora pro nobis
Angina pectoria
— Ora pro nobis
Et libera nobis omnia Câncer

— Amém.


III

Há 1 célula em mim que quer respirar e não pode

Há 2 células em mim que querem respirar e não podem

Há 4 células em mim que querem respirar e não podem

Há 16 células em mim que querem respirar e não podem

Há 256 células em mim que quer respirar e não podem

Há 65.536 células em mim que querem respirar e não podem

Há 4.294.967.296 células em mim que quer respirar e não podem

Há 18.446.744.073.709.551.616 células em mim que querem respirar e não podem

Há 340.282.366.920.938.463.374.607.431.768.211.456 células em mim que querem respirar e não podem.


IV

— Minha senhora, lamento muito, mas é meu dever informá-la de que seu marido é portador de um tumor maligno no fígado...

— Meu caro senhor, tenho que comunicar-lhe que sua esposa terá que operar-se de uma neoplastia do útero...

— É, infelizmente a biopsia revela um osteo-sarcoma no menino. É impossível prever...

— É a dura realidade, meu amigo. Sua mãe...

— Seu pai ainda é um homem forte, vai agüentar bem a intervenção...

— Sua avó está muito velhinha, mas nós faremos o possível...

— Veja você... E é cancerologista...

— Coitado, não tinha onde cair morto. E logo câncer...

— Há muito operário que morre de câncer. Mas câncer de pobre não tem vez...

— Era nosso melhor piloto. Mas o câncer de intestino não perdoa...

— Qual o que, meu caro, não se assuste prematuramente. Câncer não dá em deputado...

— Parece que o General está com câncer...

— Tão boa atriz... E depois, tão linda...

— Que coisa! O Governador parecia tão bem disposto...

— Se for câncer, o Presidente não termina o mandato...

— Não me diga? O Rei...

— Mentira... O Papa?...

— E atenção para a última notícia. Estamos ligados com a Interplat 666...
— DEUS ESTÁ COM CÂNCER.


Fonte: Projeto Releituras

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar
– e um barco [com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar ?

E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem [senão
de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é para ele poder se
perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco
de pensamento pra pensar até se perder no infinito...


..............................


De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra -- um pedaço [bem
verde de terra -- e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um
modesto pomar; e um jardim – que um jardim é importante – carregado de [flor
de cheirar ?

E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem [senão
de suas mãos para mexer a terra e arranhar uns acordes de violão quando a
noite se faz de luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa
sem mistério não valor morar...


.................................


De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um [amigo bem
seco, bem simples, desses que nem precisa falar -- basta olhar -- um
desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra [briga,
um amigo de paz e de bar ?

E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem [senão
de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra
bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à
vontade ao amigo ?


...................................


De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma [mulher
com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular ? E enquanto
pensando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de [um
carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o destino o carrega em
sua onda sem rumo ?

Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher -- as
únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo
amigo ..."


Fonte: Jornal de Poesia

Brincando com 10.000 volts


Link: http://youtube.com/watch?v=LKKLBOyh9w8

Link: http://youtube.com/watch?v=-2UXr_vPvj0

Link: http://youtube.com/watch?v=AAa8RiyJ8Wo

Link: http://youtube.com/watch?v=EnlCz1P95WM

Link: http://youtube.com/watch?v=M6ZjMWLqJvM


Link: http://youtube.com/watch?v=BfX-s4dcYBg

Link: http://youtube.com/watch?v=3lzqdamO510

Link: http://youtube.com/watch?v=7YGwmPC8OYI

Link: http://youtube.com/watch?v=8LgC7q5sWdM

Link: http://youtube.com/watch?v=61yn5N5VksA

Link: http://youtube.com/watch?v=YXm5fVNVZzw

Link: http://youtube.com/watch?v=AARJpzoZfXU

Link: http://youtube.com/watch?v=roYJyhFskJk

Link: http://youtube.com/watch?v=MZmPD6-vNVY

Link: http://youtube.com/watch?v=NW3i_ZOGuIo

Link: http://youtube.com/watch?v=RERXiliJfdI

Link: http://youtube.com/watch?v=w5rs7pfZuPs

Link: http://youtube.com/watch?v=mw2HN7snJck
Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
soluçando nas trevas, entre as grades
do calabouço olhando imensidades,
mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
quando a alma entre grilhões as liberdades
sonha e sonhando, as imortalidades
rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
nas prisões colossais e abandonadas,
da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!
Como surge do linho alvo e fragrante
Esplêndida mulher formosa e nua,
Já despida das brumas do Levante
Pálida e bela me parece a Lua.

Sobe, forma de sonho deslumbrante,
No manso lago sideral flutua,
E límpido lhe brilha o corpo amante,
E o seio à tepidez da vaga estua.

Avança sem temor, Náiade ousada,
Serenamente, airosamente nada,
E as mansas vagas osculando-a pelas

Úmidas pomas, pela espádua albente,
Ela vai-se, enredada docemente
Nos nenúfares brancos das estrelas.

Link: http://www.youtube.com/watch?v=QwnsQpcNvpE

The Melancholy Death of Oyster Boy


Link: http://youtube.com/watch?v=phzO2qJ35sE

Link: http://youtube.com/watch?v=fxQcBKUPm8o

Link: http://youtube.com/watch?v=sdUUx5FdySs

Link: http://youtube.com/watch?v=8cLcjgv_2d0

Link: http://www.youtube.com/watch?v=EwY5w6I1DUA

Link: http://www.youtube.com/watch?v=ai2CL6rlP-w

Link: http://www.youtube.com/watch?v=H4S64H4HXTw
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