Certo dia, assim falou o carvalho à cana:
"Penso que você bem que tem motivos
Para reclamar da natureza.
Um passarinho é um fardo para você.
O mais suave vento,
Aquela que apenas balança a face da água,
Obriga você a abaixar a cabeça...
Minha testa, entretando,
Mais parece uma montanha.
Não contente em segurar o sol,
Freia, ainda, a tempestade...
Já que uma simples brisa
Para você é um vendaval,
Pergunto-me por que você não nasceu
Abrigada pelas folhagens
Cujas vizinhanças eu protejo...
Você não sofreria tanto...
Eu defenderia você das intempéries.
No entanto, você parece preferir
As úmidas bordas do reino do vento...
Para mim, a natureza parece ter sido
Mais injusta com você"
"É muita bondade sua,
Disse, gentilmente, a cana,
Sentir compaixão das minhas penas.
Mas não se preocupe:
Os fortes ventos incomodam
Mais a você do que a mim.
Eu dobro, mas não rompo.
Até agora, você tem resistido bem
A tantos golpes no corpo inteiro,
mas é melhor esperar para falar.
Dê um tempo, aguarde.
Quem sabe que o futuro reserva
A cada um de nós, quem sabe?"
Dias depois desta conversa,
Um vento terrível soprou do horizonte.
Furioso, arrastava tudo o que via.
Nada ficava parado à sua frente.
Arrastava o que lhe fizesse obstáculo.
Levantava poeira,
Sacudia os galhos,
Enlouquecia as águas,
Revirava as nuvens...
A árvore agüentou firme,
A cana dobrou-se.
O vento redobrou seus esforços.
Soprou tão forte
Que derrubou o carvalho.
Pobre árvore!
Parecia um arbusto,
Deitado no chão,
As raízes para fora...
Caiu inteiro como sempre caem
Aqueles que andam
Com a cabeça no céu
E os pés tocando o inferno.
(Adaptação: Regina Drumond)
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