Edney Souza - (In)tenso

Há uma tensão leve no ar
Nada que solte faíscas
Mas há risco de explosão

Não sei que atitudes tomar
Parecem coisas mínimas
Mas causam muita comoção

Tantos julgamento errôneos
Que nem eu mesmo sei dizer
Se errei ou deixei de acertar

Tantas suposições exageradas
Não sei o que eu quis fazer
Não sei se não soube me controlar

Um momento intenso
Que me faz viver plenamente
Que me machuca muito
Que me deixa doente

Só espero saber perdoar
Só espero saber pedir perdão
Só espero não deixar
Mais dores em meu coração

Será só um poema?
Será realidade?
Será fantasia?
Será ficção?

Fonte: InterNey.Net
A mensagem é forte num filme sutil feito pela Saatchi & Saatchi Beirut para o Ministério de Assuntos Sociais do Líbano numa campanha de combate à violência infantil doméstica. Para servir de contraponto à criança estampada, imagens de animais cuidando de seus filhotes. O filme ganhou o ocidente com o YouTube. Também foi premiado no Épica Awards 2006.

Link: http://www.youtube.com/watch?v=OzRI_m5gKWY

Fonte: Comunicação de Interesse Público, Sedentário e Hiperativo

Link: http://youtube.com/watch?v=nzhzCF77GDo

Link: http://youtube.com/watch?v=TYctbbWWzzo

Link: http://youtube.com/watch?v=pribHw93OPc

Link: http://youtube.com/watch?v=4PYXZEkAC4E

Link: http://youtube.com/watch?v=QEg95LwYvoE

Link: http://youtube.com/watch?v=DEB7i8bSwNA
Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro,
Não 'stá quem eu amei. Olhar nem riso
Se escondem nesta leira.
Ah, mas olhos e boca aqui se escondem!
Mãos apertei, não alma, e aqui jazem.
Homem, um corpo choro!

Fonte: Wikisource

Paradise Lost - The Enemy


Link: http://youtube.com/watch?v=qMgQoYFp_K4

Link: http://youtube.com/watch?v=ywcrIyrR34E

Link: http://youtube.com/watch?v=bA8gDIMcK-M

Link: http://youtube.com/watch?v=SyzZL8L7VlI

Link: http://youtube.com/watch?v=xsFJS4I_05E

Link: http://youtube.com/watch?v=21dsRBeIy8A

Link: http://youtube.com/watch?v=CN5eoZM-vE4

Link: http://youtube.com/watch?v=U4FAKRpUCYY

Link: http://youtube.com/watch?v=fm0T7_SGee4

Link: http://youtube.com/watch?v=w1mgEQTMVB8

Link: http://youtube.com/watch?v=cswkEL1O4Hk
Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra

Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.

Fonte: Wikisource

Link: http://youtube.com/watch?v=RBgSSK0m5kA

Link: http://www.youtube.com/watch?v=fVSgx7gKc_k

Link: http://youtube.com/watch?v=yNqP-PO66c8

Ennio Morricone - The Good, The Bad & The Ugly Theme


Link: http://youtube.com/watch?v=ZKlxyoPNaFI

Link: http://youtube.com/watch?v=E4aVmXrY4dk
Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir ...

Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,

Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconseqüência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!

Dêem-me de beber, que não tenho sede!

Fonte: Wikisource
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Fonte: Wikisource

Link: http://www.youtube.com/watch?v=VONywcxEQqA

Link: http://youtube.com/watch?v=zhx7V-yXPVw

Link: http://www.youtube.com/watch?v=k_BiAqV9zCM

Link: http://youtube.com/watch?v=vlvoxg906IY

Link: http://youtube.com/watch?v=9IJX-mLgDRA

Link: http://youtube.com/watch?v=cZd1Js0QaOI

Verônica Sabino - Às Vezes, Nunca


Link: http://youtube.com/watch?v=AzEa7zrNsc4

Link: http://youtube.com/watch?v=nT5F1lOt1jI
É preciso uma mente de inverno
Para olhar a geada e os ramos
Dos pinheiros cobertos pela nevada

E há muito tempo para fazer frio
Para observar os zimbros arrepiados de gelo,
Os abetos ásperos no brilho distante

Do sol de janeiro; e não pensar
Em qualquer miséria no som do vento,
No som de umas poucas folhas

Que é o som da terra
Cheia do mesmo vento
Que sopra no mesmo lugar vazio

Para alguém que escuta, escuta na neve,
E, ausente, observa
Nada que não está lá e o nada que é.

Fonte: Cultura Pará
Chama o enrolador de charutos,
O musculoso, e pede que ele bata
Em xícaras caseiras cremes lúbricos.
Que as raparigas vistam as roupas
Que é seu costume usar, e os rapazes
Tragam flores no jornal do mês passado.
Que parecer termine em ser somente.
O único imperador é o imperador do sorvete.

Pega no armário de pinho,
Com os puxadores de vidro quebrados,
O lençol que ela bordou com pombas
E cobre todo o corpo dela, até o rosto.
Se um pé ossudo aparecer, verão
Que fria e dura que ela está.
Que fixe a lâmpada seu feixe quente.
O único imperador é o imperador do sorvete.
I

Homem curvado sobre violão,
Como se fosse foice. Dia verde.

Disseram: “É azul teu violão,
Não tocas as coisas tais como são”.

E o homem disse: As coisas tais como são
Se modificam sobre o violão”.

E eles disseram: “Toca uma canção
Que esteja além de nós, mas seja nós,

No violão azul, toca a canção
Das coisas justamente como são”.


II

Não sei fechar um mundo bem redondo,
Ainda que o remende como sei.

Canto heróis de grandes olhos, barbas
De bronze, mas homem jamais cantei.

Ainda que o remende como sei
E chegue quase ao homem que não cantei.

Mas se cantar só quase ao homem
Não chega às coisas tais como são,

Então que seja só o cantar azul
De um homem que toca violão.

Link: http://youtube.com/watch?v=tzR841AQLhc

Max


Link: http://www.youtube.com/watch?v=P_6uEMr6WmI

Link: http://youtube.com/watch?v=tr35VBPaIcY

Link: http://youtube.com/watch?v=qGI_cVCmSaE

Mudvayne - Nothing to Gein


Link: http://www.youtube.com/watch?v=ZCr9FEhy_wc

Link: http://youtube.com/watch?v=W4Q7JL1LVQE

Link: http://youtube.com/watch?v=Gm5NZnPcSrA

Link: http://youtube.com/watch?v=L5ZbdDDNz3c

Link: http://youtube.com/watch?v=8OFR4L2tHe4

Link: http://youtube.com/watch?v=oyAoGKkraIE

Link: http://youtube.com/watch?v=frvg9hfJYBo

Link: http://youtube.com/watch?v=CuTi9UZtPbw

Link: http://youtube.com/watch?v=hU8k_c2YlG4
Fernando de Noronha. Arquipélago. Ilha.
Plantada no mar
como um pedaço de carvão boiando nas águas do Atlântico.
O Pico se elevando como o Pão de Açúcar,
o Espinhaço do Cavalo,
o Morro dos Remédios com o Forte no alto,
e na Praça dos Remédios a igrejinha caiada.

A vegetação rastejante, quase à flor do terreno,
o mata-pasto e a burra-leiteira,
de cujos talos quebrados
goteja um leite cáustico, violento,
que queima os olhos e provoca cegueira.
E o cabo-de-raposa e as cactáceas
que infestam o solo com os espinhos remosos.

E lá para o Sul, para a Sapata espalmada,
a pequena floresta de árvores linheiras,
sugadas de parasitas, os cipós pendurados,
com as pontas tocando no chão escaldante.

E os mulungus e as bananeiras de folhas ao vento,
subindo as encostas escarpadas do Pico.
Os cajueiros carregados de frutos vermelhos,
mamoeiros, pinhais e coqueiros
de palmas verdes tremulando sobre o branco das praias.

A praia do Cachorro, que o mar esburaca,
carregando a areia para a praia vizinha,
Santo Antônio chamada,
onde as balsas aportam para carga e descarga.

Fernando de Noronha,
com seus peixes e pássaros.
A guarajuba, a cioba, o cangulo,
a venenosa urubaiana e a albacora do alto-mar.
O mumbebo que mergulha para fisgar a sardinda,
e o alcatraz que a arrebata às bicadas ao mumbebo.

Ilha sem rios, com águas amargas
arrancadas às entranhas da terra
em poços profundos e cacimbas famosas
- Cacimba de Mulungu, Cacimba do Padre.

Fernando de Noronha com suas lendas ingênuas
- a lenda da Alamoa,
os amores proibidos no Açude do Gato,
as estórias dos bigodetes,
as vinganças dos presos traídos no amor,
as mãos dos sedutores amputadas a golpes de foice.

As estórias de fugas,
fugitivos tragados por vorazes tubarões...

E os prisioneiros seminus,
sob o sol abrasante,
carregando o munício
vergados ao peso de caixas enormes.

Fonte: Portal Vermelho

Link: http://br.youtube.com/watch?v=BZu8mz7fOVY

Affonso Romano de Sant'Anna - Limites do Amor

Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.
Ele quis morrer para arrasar a morte e voltar.

Fonte: As Tormentas
Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

Fonte: Projeto Releituras

Link: http://youtube.com/watch?v=_XonuuQZSCE
Veiu uns ômi di saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui eles disserum qui chamava açucri
aí eles falarum e nós fechamu a cara
depois eles arrepitirum e nós fechamu o corpo
aí eles insistirum e nós comemu eles.

vocês repararam como o povo anda triste?
é a cachaça que subiu de preço
a cachaça e outros gêneros de primeira
necessidade
cachaça a dois contos, ora veja,
veja a hora,
que horas são,
atenção
apontar:

FOGO

Fonte: Jornal de Poesia

Link: http://youtube.com/watch?v=__C-MjmVUrU

Link: http://www.youtube.com/watch?v=eaScyfSHc-Y

Link: http://www.youtube.com/watch?v=ZtspkNX_lp4

Link: http://www.youtube.com/watch?v=DbaOFkC8tQE

Link: http://www.youtube.com/watch?v=KBiOO5qon2E

Link: http://www.youtube.com/watch?v=HYyw0Zv1iw4

Link: http://www.youtube.com/watch?v=yMazI2ROJXM

Link: http://youtube.com/watch?v=YA2h9PrIUxs

Matisyahu - Youth


Link: http://youtube.com/watch?v=XACcyVeo7ys
Kuan Yin é uma divindade chinesa — a deusa da compaixão e piedade, venerada em diversos países da Ásia. No Budismo corresponde ao bodhisattva Avalokiteshvara (अवलोकितेश्वर), que representa a suprema compaixão de todos os budas. O coreógrafo chinês Zhang Jigang criou uma apresentação de dança para permitir ao público contemplar a "Kwan Yin de Mil Braços". A dança foi apresentada por 21 dançarinas surdas integrantes da "Companhia de Arte Performática Chinesa de Deficientes Físicos." Posicionadas numa longa fila as bailarinas conseguem dar aos espectadores a ilusão de que os movimentos de seus múltiplos braços e pernas pertencem à figura de uma única deusa.


Link: http://youtube.com/watch?v=IqIHk792tEY


Link: http://youtube.com/watch?v=nUaCU1fAYw4

Fonte: Wikipédia

Vladímir Maiakóvski - Escárnios

Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo de matizes,
entregarei a alma ao poder do enxame das rimas imprevistas.
Ânsia de ouvir de novo como me calarão das colunas das revistas
esses que sob a árvore nutriz es-
cavam com seus focinhos as raízes.

Fonte: Cultura Pará
A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

Fonte: Cultura Pará
Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.

Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"

Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!

Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!

Fonte: Cultura Pará

Link: http://www.youtube.com/watch?v=NdD54rG9oQA

Link: http://youtube.com/watch?v=5TJGb8cMcyQ

Link: http://youtube.com/watch?v=B2yoZQCLoSY

Link: http://youtube.com/watch?v=pSmHmnaLIAM

Link: http://www.youtube.com/watch?v=1slEuebYZX0


Link: http://www.youtube.com/watch?v=f2iiSpjOlu0

Link: http://www.youtube.com/watch?v=Mi_efzYcXGI


Link: http://www.youtube.com/watch?v=O3CjBLrazE8

Link: http://www.youtube.com/watch?v=lzMGzBKRttU


Link: http://www.youtube.com/watch?v=nkS9THHjp38

Link: http://www.youtube.com/watch?v=k0RgjrBu5uE

Link: http://www.youtube.com/watch?v=77DgEqwRnrA

Link: http://www.youtube.com/watch?v=SKd0VII-l3A
Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais
importante que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.

Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.

Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.

Mude por uns tempos o estilo das roupas.

Dê os seus sapatos velhos.

Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira para passear livremente
na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos
passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...

Depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv, compre outros jornais...

Leia outros livros, viva outros romances.

Ame a novidade.

Durma mais tarde.

Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.

Corrija a postura.

Coma um pouco menos,

Escolha comidas diferentes,

Novos temperos, novas cores,

Novas delícias.

Tente o novo todo dia.

O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor,
a nova vida.

Tente.

Busque novos amigos tente novos amores.

Faça novas relações.

Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...

Outra marca de sabonete, outro creme dental...

Tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.

Vá passear em outros lugares.

Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.

Troque de bolsa, de carteira, de malas,
troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios, despertadores.

Abra conta em outro banco.

Vá a outros cinemas, outros cabelereiros,
outros teatros, visite novos museus.

mude.

Lembre-se de que a vida é uma só.

E pense seriamente em arrumar um

Outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.

Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.

Troque novamente.

Mude, de novo.

Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança, o movimento,
o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda!

Repito por pura alegria de viver:

A salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena!!!

Fonte: Provocações
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

Fonte: Jornal de Poesia
É noite. A Lua, ardente e terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia . . .
Dormem as sombras na alameda
Ao longo do ermo Piabanha.
E dele um ruído vem de seda
Que se amarfanha . . .

No largo, sob os jambolanos,
Procuro a sombra embalsamada.
(Noite, consolo dos humanos!
Sombra sagrada!)

Um velho senta-se ao meu lado.
Medita. Há no seu rosto uma ânsia . . .
Talvez se lembre aqui, coitado!
De sua infância.

Ei-lo que saca de um papel . . .
Dobra-o direito, ajusta as pontas,
E pensativo, a olhar o anel,
Faz umas contas . . .

Com outro moço que se cala,
Fala um de compleição raquítica.
Presto atenção ao que ele fala:
— É de política.

Adiante uma senhora magra,
Em ampla charpa que a modela,
Lembra uma estátua de Tanagra.
E, junto dela,

Outra a entretém, a conversar:
— "Mamãe não avisou se vinha.
Se ela vier, mando matar
Uma galinha."

E embalde a Lua, ardente e terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia . . .

Fonte: Jornal de Poesia
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus”.

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos... séc’los de delírio,
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

Link: http://www.youtube.com/watch?v=nvM9Hr-xLkQ


Link: http://www.youtube.com/watch?v=qCkJIkC-5d4

Link: http://youtube.com/watch?v=S6yuR8efotI

Link: http://youtube.com/watch?v=oBFrEJK7oAg

Link: http://youtube.com/watch?v=Zd_oIFy1mxM

Link: http://youtube.com/watch?v=F29vJvyrL9E

Link: http://youtube.com/watch?v=j-b7DJTv4j0

Link: http://youtube.com/watch?v=vCY0BN2uf9E
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa
Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
Este luzir é melhor.

O que é a vida? O espaço é alguém para mim.
Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim
E, sem querer, tem dó.

Extensa, leve, inútil passageira,
Ao roçar por mim traz
Uma ilusão de sonho, em cuja esteira
A minha vida jaz.

Barco indelével pelo espaço da alma,
Luz da candeia além
Da eterna ausência da ansiada calma,
Final do inútil bem.

Fonte: Wikisource

Link: http://youtube.com/watch?v=M1i-iGxUz9M

Link: http://youtube.com/watch?v=zwPuPX2i3n0

Georges Cziffra - Transcendental Etude in F Minor (Liszt)


Link: http://youtube.com/watch?v=Lora8mlw3ns

Link: http://youtube.com/watch?v=No6IY5FqSvY

Link: http://youtube.com/watch?v=SygS5yz7x5M

Link: http://youtube.com/watch?v=rXxZPzixzwA
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Fonte: Memória Viva
No dia da eleição
O povo todo corria
Gritava a oposição
– Ave Maria!

Viam-se grupos de gente
Vendendo votos na praça
E a urna dos governistas
Cheia de graça

Uns a outros perguntavam:
— O senhor vota conosco? —
Um chaleira respondeu:
— Este O Senhor é convosco

Eu via duas panelas
Com miúdos de dez bois
Cumprimentei-a, dizendo:
Bendita sois

Os eleitores
Das espadas dos alferes
Chegavam a se esconderem
Entre as mulheres

Os candidatos andavam
Com um ameaço bruto
Pois um voto para eles
É bendito fruto

Um mesário do Governo
Pegava a urna contente
E dizia — "Eu me gloreio
Do vosso ventre!"

Fonte: Wikisource
Somos nós os bons e velhos destroços do mundo,
os tons que os cegos não vêem como instante.
Somos a apologia, somos o verso, somos o amor distante,
a heresia, o assomo imerso no torpor profundo.

Somos o ébrio enevoado, a sujeira, a vereda sem retorno,
a corneta do arauto dando o som do fim do dia;
dia que, feito eterno, não terminaria
nas belezas que a noite esconderia feito brilho em ouro.

Somos o assombro, o desgosto, o retorno, a lamúria,
certa fúria incestuosa de veneno cáustico,
confidências, clamores, dizeres acústicos
(as dores das horas, perene penúria).

Mas o que poderíamos ser se a vida não nos desse as costas?
Talvez oásis, vento frio, forte café da madrugada...?
Seríamos a melancolia incessante, a alma dilacerada,
o ganho conquistado pelas mais altas apostas?

Não seríamos nada além do nada deposto em coisa alguma;
o inverso dos fatos em todos os versos escritos nos becos;
assim, haveríamos como sustentar os gritos secos,
estados sentidos, retidos na mesma ironia impura?

Nosso pesar é tal como enrubescida lâmina,
voz presa na garganta que nos chama feito flechas –
que amedronta as verdades encontradas apenas em brechas,
apenas em medos: segredos que se hasteiam feito flâmula.

E por entre a noite fria – clamo que me digam o que posso ser –,
sem temer que posso ser a mágoa ressentida e fria,
esquecer que já me fui um delírio de agonia
na calada previsão deste martírio a me conter.

Calo-me em receios, devaneios, excessos em alusão;
fecho-me em descasos, inquietudes, perguntas para o ar;
vejo minh´alma, sozinha novamente, pondo-se a definhar...
e aguardo o meu momento de cantar a melodia da ilusão.

Fonte: Paraíso Niilista

Korn - Evolution


Link: http://youtube.com/watch?v=VntFEWF8I8A

Link: http://br.youtube.com/watch?v=xAuQmJzt_q0

Link: http://br.youtube.com/watch?v=MdZs5PVcwBs

Link: http://br.youtube.com/watch?v=TaXqU7hVVhI

Link: http://br.youtube.com/watch?v=tMe15M8E9fs


Link: http://br.youtube.com/watch?v=eJa0b0dlGlI

Link: http://br.youtube.com/watch?v=mkY1-364Nic
A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a seca
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que nos fomos num momento.

Fonte: Projeto Releituras
Quando eu vi você
Tive uma idéia brilhante
Foi como se eu olhasse
De dentro de um diamante
E meu olho ganhasse
Mil faces num só instante

Basta um instante
E você tem amor bastante

Um bom poema
Leva anos
Cinco jogando bola,
Mais cinco estudando sânscrito,
Seis carregando pedra,
Nove namorando a vizinha,
Sete levando porrada,
Quatro andando sozinho,
Três mudando de cidade,
Dez trocando de assunto,
Uma eternidade, eu e você,
Caminhando junto

Fonte: Jornal de Poesia
ali

ali
se

se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse

se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce

ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece

Fonte: Jornal de Poesia
Aqui começa o fim
Feito de vento.

Enlouqueceu a bússola
Do tempo.

Naufragam as certezas
Do infinito.

Aqui se acaba o mapa
Nasce o mito.

Aqui começa a morte
Em naves findas.

Aqui começa o medo.
Como um grito.

Fonte: Jornal de Poesia
Não, não é o dente que dói.
Não, o motor não incomoda.

Não me doem os dentes
mas quem morde.

Nunca o que dói é o aparente
senão o outro, de outra ordem
o oculto na cárie da vida, o tártaro
dos ossos ,
na intempérie incisiva da dentadura mole.

Nunca o que dói, doutor,
é o que fazem as máquinas,
senão
o humano dessas brocas
os buracos
da alma.

Ponha ouro, doutor,
e seja lá o que possa
morder o dente, ávido de amor,
a conta, ao fim, é nossa.

Fonte: Jornal de Poesia
Os tresloucados do volante
— ó vendaval —
voam velozes e ferozes
à caça de carne humana.
Olhos de abutre
fisgam de rua em rua
alguma oferta de acaso.
Rindo brancura de dentes
mil poderes aceleram
rumo à vítima entrevista.
O mundo que lhes pertence
tomam ao revés — de assalto.
Sangram
despedaçam
matam
E ombros erguidos prosseguem
vitoriosos pressurosos
para os aplausos da seita.

Fonte: Jornal de Poesia

Link: http://youtube.com/watch?v=CPaNYtE0s0E

Branka Parlić - Metamorphosis One (Philip Glass)


Link: http://youtube.com/watch?v=il4VDf-ugPI

Link: http://youtube.com/watch?v=lXpF0bImNh0

Link: http://youtube.com/watch?v=gp6A1KeXDC0

Link: http://youtube.com/watch?v=jf2YGbTjAGc

Link: http://youtube.com/watch?v=imbwn6iVryQ

Link: http://youtube.com/watch?v=QDJzV3EzFlQ
Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.

Fonte: Wikisource
Qualquer música, ah, qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!

Qualquer música - guitarra,
Viola, harmónio, realejo...
Um canto que se desgarra...
Um sonho em que nada vejo...

Qualquer coisa que não vida!
Jota, fado, a confusão
Da última dança vivida...
Que eu não sinta o coração!

Fonte: Wikisource

Link: http://youtube.com/watch?v=wdPuWSfztSo
Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.

E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

Fonte: Wikisource
A águia é o gênio... Da tormenta o pássaro,
Que do monte arremete altivo píncaro,
Qu'ergue um grito aos fulgores do arrebol,

Cuja garra jamais se pela em lodo,
E cujo olhar de fogo troca raios
— Contra os raios do sol.
Não tem ninho de palhas... tem um antro
— Rocha talhada ao martelar do raio,
— Brecha em serra, ant'a qual o olhar tremeu...

No flanco da montanha-asilo trêmulo,
Que sacode o tufão entre os abismos
— O precipício e o céu.
Nem pobre verme, nem dourada abelha
Nem azul borboleta... sua prole
Faminta, boquiaberta espera ter...

Não! São aves da noite, são serpentes,
São lagartos imundos, que ela arroja
Aos filhos p'ra viver.
Ninho de rei!... palácio tenebroso,

Que a avalanche a saltar cerca tombando!...

O gênio aí enseiba a geração...
E ao céu lhe erguendo os olhos flamejantes
Sob as asas de fogo aquenta as almas
Que um dia voarão.
Por que espantas-te, amigo, se tua fronte
Já de raios pejada, choca a nuvem?...

Se o réptil em seu ninho se debate?...
É teu folgar primeiro... é tua festa!...
Águias! P'ra vós cad'hora é uma tormenta,
Cada festa um combate!...
Radia!... É tempo!... E se a lufada erguer-se
Muda a noite feral em prisma fúlgido!

De teu alto pensar completa a lei!...
Irmão!-Prende esta mão de irmão na minha!...
Toma a lira-Poeta! Águia!-esvoaça!
Sobe, sobe, astro rei!...
De tua aurora a bruma vai fundir-se
Águia! faz-te mirar do sol, do raio;

Arranca um nome no febril cantar.
Vem! A glória, que é o alvo de vis setas,
É bandeira arrogante, que o combate
Embeleza ao rasgar.
O meteoro real — de coma fúlgida —
Rola e se engrossa ao devorar dos mundos...

Gigante! Cresces todo o dia assim!...
Tal teu gênio, arrastando em novos trilhos
No curso audaz constelações de idéias,
Marcha e recresce no marchar sem fim!...

Fonte: Wikisource
Do fundo da noite que me envolve
Escura como o inferno de ponta a ponta
Agradeço a qualquer Deus que seja
Pela minha alma inconquistável

Nas garras dos destino
Eu não vacilei nem chorei
Sob as pancadas do acaso
Minha cabeça está sangrenta, mas ereta

Além deste lugar tenebroso
Só se percebe o horror das trevas
E ainda assim, o tempo,
Encontra, e há de encontrar-me, destemido

Não importa quão estreito o portão
Nem quão pesado os ensinamentos
Eu sou o mestre do meu destino
Eu sou o comandante da minha alma

Fonte: Wikisource

Riachão - Cada macaco no seu galho (Ensaio)


Link: http://www.youtube.com/watch?v=uEBOiQ9ss0w

Fonte: Cápsula da Cultura

Link: http://www.youtube.com/watch?v=ozx1fzzuXdE

Link: http://youtube.com/watch?v=mTDHtIYgCXs


Link: http://youtube.com/watch?v=1PlMtRDVUOg


Link: http://youtube.com/watch?v=jkMGGkjHOOE

Link: http://youtube.com/watch?v=7avEWEbE6CA

Link: http://youtube.com/watch?v=9xtYEX9KDwY
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Fonte: Wikisource

Link: http://www.youtube.com/watch?v=wsJjG2g9WL8

Link: http://youtube.com/watch?v=aaLoXu9RBUM

Link: http://youtube.com/watch?v=66Lq1nHRp24

Arctic Monkeys - Fluorescent Adolescent


Link: http://youtube.com/watch?v=ma9I9VBKPiw

Link: http://youtube.com/watch?v=InzRp3Vbik0

Link: http://youtube.com/watch?v=bd7mizeyS1s
Mais informações: iphoneSimFree.com

Link: http://www.youtube.com/watch?v=ER9eM2E9Lzo

Link: http://youtube.com/watch?v=MMewYtMx82M

Link: http://youtube.com/watch?v=krODHfOkdJ0

Link: http://youtube.com/watch?v=6yq_p7QtHdY

Link: http://youtube.com/watch?v=nDxTLUmsR-s

Link: http://youtube.com/watch?v=2XwMPIqobag

Link: http://youtube.com/watch?v=o-CGhosoaHY
O povo fala grosso
mas não segue adiante
porque tem um fosso.

O povo mostra o rosto
mas não pode ser visto
porque tem um fosso.

O povo não tem sobrosso
mas é expulso da festa
porque tem um fosso.

O povo paga imposto
mas fica à margem do rio
porque tem um fosso.

Fosse de que modo fosse
a vida não mudaria
porque tem um fosso.

A fome mostra o seu dorso
mas não prova do manjar
porque tem um fosso.

Espectros de pele e osso
contai vossa fome ao vento
porque tem um fosso.

Fonte: Jornal de Poesia
Agora eu sei o quanto basta à ceia do coração
e o quanto sobra do naufrágio
das nossas utopias.

Agora eu sei o que significa a fala dos mortos
e esta parábola soterrada
que jorra das veias da pedra.

Agora eu sei o quanto custa o ouro das palavras
e este pacto de sangue
com as metáforas do tempo.

Agora eu sei o que se passa no coração de treva
e do homem que morre mendigando
a própria liberdade.

Agora eu sei que o pão da terra nunca foi repartido
com a nossa pobreza
e com a solidão de ninguém.

Agora eu sei que é preciso agarrar a vida
como se fosse a última dádiva
colocada em nossas mãos.

Fonte: Jornal de Poesia
Não passamos
de frágeis babuínos
extraviados na selva da vida.
A cauda dos antepassados
ainda acaricia
a arrogância de alguns cretinos
que se vestem a rigor
para os funerais dos nordestinos.

Ungimos nossos corpos
com essências e perfumes finos
mas nada esconde o odor
atávico que herdamos
dos babuínos.

Fonte: Jornal de Poesia

Massive Attack - False Flags


Link:http://youtube.com/watch?v=GjAV8PpZWX4

Link: http://youtube.com/watch?v=aXx3qb4H0po
o melhor esconderijo
a maior escuridão
já não servem de abrigo
já não dão proteção
a Líbia bombardeada
a libido e o vírus
o poder, o pudor
os lábios e o batom

que a chuva caia
como uma luva
um dilúvio
um delírio
que a chuva traga
alívio imediato

que a noite caia
de repente caia
tão demente
quanto um raio
que a noite traga
alívio imediato

há espaço pra todos
há um imenso vazio
nesse espelho quebrado
por alguém que partiu
a noite cai
de alturas impossíveis
e quebra o silêncio
e parte o coração

há um muro de concreto
entre nossos lábios
há um muro de Berlim
dentro de mim
tudo se divide
todos se separam
duas Alemanhas
duas Coréias
tudo se divide
todos se separam

Fonte: Paraíso Niilista
Naveguei contra os ventos
E as certezas morreram
Enquanto cuspia contra tudo

Deixei-me levar pelos ventos
Desagüei no mar da mediocridade
E logo já não me reconhecia

Agora pergunto pelas paredes
Nada transpassa a monotonia
De viver numa só trilha?

Olha a tua sombra!
O sol revela mais veredas
E mais verdades que o vento!

Olha ao lado, quanta poesia!
Agora somente paisagem
De um sentido de terra batida

Se isso lhe alcança a alma
Descarrila este trem!
E isso será então tua vida

Muito prazer, liberdade
Ouço que outro trem passou
Mas ninguém desceu

Que sucede com essas pessoas?
Acaso não olham ao lado?
Não vêem outro caminho?

Não se querem ver livres?
Fazer seu próprio sentido?
Olá? ...

Fonte: Paraíso Niilista
Vagabundo de sol e de sentido,
de não ser necessário mais buscar,
porque qualquer caminho há de levar
ao que tenho tramado e pretendido

(sem uma comoção, sem um gemido,
na perfeição exata deste estar
à deriva no que não chega a mar,
no que não leva ao porto prometido) –

basta-me ser inverno, e haver a chuva
a bater no telhado, e o dia escuro,
de um ócio que me quadra como luva:

e este não progredir para um final,
que é todo o meu domínio e o meu fanal,
todo o espanto que espero do futuro.

Fonte: O Arquivo de Renato Suttana
Babéis de blocos que se elevam para os céus,
futilidade a arder em chamas junto ao chão;
sobre cada tijolo ou pedra um fungo mau;
lâmpadas a oscilar e luz na escuridão.

Por sobre rios de óleo hediondas pontes negras,
cabos que em profusão de redes se entretecem;
profundezas de caos cuja desordem mana
fluxos que, à luz do sol, fétidos apodrecem.

Esplendor e matiz, doenças e decadência,
uivos, gritos, clamor e um rastejar insano;
exóticas ralés orando a estranhos deuses;
misturadas de odor que à mente causam dano.

Legiões de gatos que das vielas noturnais,
furtivos, a gemer para o clarão da lua,
plangendo dos jardins de Pluto a cantilena,
exprimem o futuro em gritos infernais.

Compridas torres e pirâmides ruinosas,
vôos de morcegos sobre ruas que a erva esconde,
pontes nuas de Arkham erguidas sobre rios
que fluem em silêncio enquanto essa horda ronde.

Campanários que mal se sustentam ao luar,
bocarras de antros pelo musgo recobertas;
e, para responder ao vento e à água, só os gatos
que vagueiam, a miar, tais paragens desertas.

Fonte: O Arquivo de Renato Suttana
Existe um jardim antigo com o qual às vezes sonho,
sobre o qual o sol de maio despeja um brilho tristonho;
onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram;
e as paredes e as colunas são idéias que passaram.
Crescem heras de entre as fendas, e o matagal desgrenhado
sufoca a pérgula, e o tanque foi pelo musgo tomado.
Pelas áleas silenciosas vê-se a erva esparsa brotar,
e o odor mofado de coisas mortas se derrama no ar.

Não há nenhuma criatura viva no espaço ao redor,
e entre a quietude das cercas não se ouve qualquer rumor.
E, enquanto ando, observo, escuto, uma ânsia às vezes me invade
de saber quando é que vi tal jardim numa outra idade.
A visão de dias idos em mim ressurge e demora,
quando olho as cenas cinzentas que sinto ter visto outrora.
E, de tristeza, estremeço ao ver que essas flores são
minhas esperanças murchas – e o jardim, meu coração.

Fonte: O Arquivo de Renato Suttana
Sobre os charcos noturnos ululando,
entre os negros ciprestes suspirando,
nos vendavais da noite remoinhando,
demoníacas formas noturnais;
contra os galhos desnudos se ferindo,
junto aos poços estanques estrugindo,
nas penhas, sobre o mar, repercutindo,
do desespero as sombras infernais.

Certa vez (ainda o vejo em pensamento),
antes que se estendesse um céu cinzento
sobre o meu juvenil atrevimento,
houve tal coisa como ser feliz;
o céu que agora é negro refulgia,
límpido e safirino resplendia,
mas logo vi que em sonhos é que eu via
tudo isso – no fatal torpor de Dis.

Mas o rio do tempo, a transcorrer,
traz o tormento do desconhecer,
sempre fugindo, em seu cego correr
em direção àquele prado arcano;
enquanto o viajante enxerga aflito
do fogo-fátuo o fulgor esquisito
e do petrel maligno escuta o grito,
a vogar impotente para o oceano.

Asas malignas pelo éter batendo,
abutres que o espírito vão roendo,
vultos negros que passam, percorrendo
eternamente um céu de escuridão;
contornos espectrais de ida ventura,
cruéis demônios da aflição futura
se mesclam numa nuvem de loucura
e fazem da alma a sua habitação.

Assim os vivos, sós e soluçantes,
nos amplexos da angústia palpitantes,
são vítimas das fúrias repugnantes,
que à noite e ao dia vêm a paz roubar;
mas para além da dor e do lamento,
de uma vida de tédio e de tormento,
há de coroar o doce Esquecimento
tantos anos de inútil procurar.

Fonte: O Arquivo de Renato Suttana
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